Ex-agente da CIA já não deverá ser extraditada para Itália

Sabrina de Sousa quer cumprir três anos de trabalho comunitário em Portugal.

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Magalhães e Silva, advogado de Sabrina de Sousa em Portugal Reuters

A antiga agente da CIA luso-americana Sabrina de Sousa já não deverá ser extraditada. Um procurador italiano revogou o mandado de detenção europeu da ex-espia, que viu esta terça-feira o Presidente de Itália reduzir-lhe de quatro para três anos a condenação por ter participado no rapto de um imã egípcio, Abu Omar.

Sabrina de Sousa devia ser levada esta quarta-feira da cadeia portuguesa de Santa Cruz do Bispo, no Porto, onde se encontra desde que foi detida na semana passada, para uma prisão italiana. Mas a Interpol, que a devia acompanhar na viagem, já foi notificada de que deixou de impender sobre ela o mandado de detenção europeu.

O advogado português da antiga agente secreta, Magalhães e Silva, explica que como os três anos de cadeia podem ser substituídos por trabalho comunitário a sua cliente vai pedir para cumprir essa pena em Portugal, onde reside há quase dois anos.

Hoje com 61 anos, Sabrina de Sousa foi condenada no âmbito de uma operação de contra-terrorismo que teve lugar em 2003, e que sempre negou conhecer. A morar em Milão e suspeito de terrorismo, Abu Omar foi levado para o Egipto, alegadamente pela CIA, e torturado numa cadeia.

Mas o próprio imã já veio dizer mais recentemente, numa entrevista ao jornal Guardian, que a luso-americana não passou de um bode expiatório em toda a história: “Tanto ela como as outras pessoas  condenadas foram bodes expiatórios. A administração norte-americana sacrificou-os, enquanto as altas hierarquias gozaram de imunidade”.

Em declarações prestadas já esta quarta-feira à agência noticiosa Adnkronos, o antigo imã congratulou-se com o desfecho do caso: “Estou satisfeito, até porque há um ano tinha pedido pessoalmente ao presidente italiano para que fosse perdoada”.

Abu Omar que contactou com Sabrina de Sousa via Twitter. “Foi injustiçada por todos: foi abandonada pelo seu país, Portugal, e também pela CIA”, observa o ex-líder religioso, que exige ser indemnizado pelos serviços secretos norte-americanos em milhão e meio de euros.

Magalhães e Silva espera que Sabrina de Sousa seja libertada nas próximas horas: “A informação que tenho é de que  se encontra na Polícia Judiciária, à espera de que sejam levados a cabo os procedimentos necessários para poder sair em liberdade”. Será a justiça portuguesa a determinar que tipo de trabalho a favor da comunidade, caso seja autorizada a cumprir aqui a pena, explica o jurista. 

A luso-americana tinha apelado recentemente ao presidente Donald Trump para intervir no caso, por forma a evitar a extradição. O que aparentemente acabou por não suceder, embora a Casa Branca tenha dito que o tentou fazer. Quando se soube da comutação da pena, nesta terça-feira, um porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner, mostrou-se agradado com a decisão do presidente italiano. 

Num comentário publicado esta quarta-feira pelo jornal La Repubblica, o jornalista Carlo Bonini recorda que todos os governos italianos desde o tempo de Romano Prodi se recusaram sempre a levantar o segredo de Estado relativamente à operação dos serviços secretos para raptar o imã - o que terá impedido que tivesse havido um verdadeiro apuramento de responsabilidades. 

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