Alcoutim: negócio da China com o sol do Algarve

Chineses e britânicos avançam com investimento de 200 milhões de euros, sem recurso a subsídios, para alimentar uma cidade duas vezes maior do que Faro.

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Ministro da Economia diz que o parque de Alcoutim é o primeiro de uma série de investimentos que a chinesa CTIEC quer realizar em Portugal Daniel Rocha

O sol do Algarve, descobriram os chineses, não serve só para “bronzear” a pele. No interior do concelho de Alcoutim, na aldeia de Vaqueiros, o grupo CTIEC – China Triumph International Engineering, em parceria com a empresa We LinK, do Reino Unido, vai investir 200 milhões de euros num parque de produção de energia solar – com capacidade para abastecer uma cidade de 130 mil habitantes, duas vezes o tamanho de Faro. O projecto terá uma capacidade de produção instalada de 220 megawatts (MW).

O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, salientou durante a apresentação deste projecto fotovoltaico que o grupo, liderado por Peng Shou, está a fazer no Algarve “o maior investimento que esta empresa está a fazer em todo o mundo”. Mas o mais significativo, sublinhou o ministro, é a mudança de paradigma na produção energética: “Este é o maior parque solar não subsidiado – e o primeiro de uma série de investimentos que esta empresa quer realizar em Portugal”. Peng Shou adiantou que, durante a manhã, reuniu em Lisboa com o primeiro-ministro, António Costa, não adiantando pormenores sobre a conversa. À hora do almoço esteve com o ministro da Economia, autarcas e parceiros do negócio, a seguir regressou a Londres.

As obras do parque solar arrancam no próximo mês de Abril, prevendo-se que num prazo de dois anos fiquem concluídas. A infra-estrutura ocupa uma área de cerca de 80 hectares, inserida numa propriedade com a área de 1300 hectares. O parque solar coincide, numa extensão de quatro quilómetros, com a trajectória da Via Algarviana – a rota pedestre que atravessa o Algarve, de Alcoutim a Sagres, pelo interior.

Durante a discussão do estudo de impacto ambiental, a associação Ambientalista Almargem levantou algumas dúvidas relacionadas com os impactos do projecto, pelo eventual afastamento dos turistas que gostam de apreciar a paisagem no seu estado natural. “O Ministério do Ambiente não atendeu às nossas preocupações, nem sequer deu resposta”, declarou ao PÚBLICO o dirigente da Almargem, João Santos. O ambientalista defende “a importância de serem encontradas medidas minimizadoras” para o projecto.

Por seu lado, o presidente da câmara de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves, salientou que os 60 postos de trabalho que irão ser criados “são muito bem-vindos, num concelho que vive o problema da desertificação, por falta de empregabilidade”.

No Reino Unido, a CTIEC desenvolve vários projectos na área das energias renováveis. “Estou certo que, aqui, a produção de energia eléctrica, a partir do solar, pode ser quatro ou cinco vezes maior, esta zona do sul do país é muito favorecida pelo Sol”, disse o ministro da Economia.

Caldeira Cabral entende que Portugal pode ser um país competitivo na área das energias renováveis: “Tem um potencial muito forte, que durante muitos não foi aproveitou – porque a tecnologia não permitia, ou porque não houve uma aposta nesse sentido”. No futuro, o desenvolvimento deste sector irá “traduzir-se em redução de custos na produção de electricidade, de forma competitiva, não subsidiada”, afirmou.

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