Europa respirou de alívio com fim das transferências na China

Clubes chineses gastaram 387,2 milhões de euros em reforços no período de transferências de Inverno, um valor 13 vezes superior ao registado em 2013. Oscar, que trocou o Chelsea pelo Shanghai SIPG, foi o mais caro.

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Não foram só jogadores que a China cativou na Europa, também treinadores. André Villas-Boas foi um dos que viajou para a Ásia Aly Song/Reuters

Foram suspiros de alívio aqueles que se ouviram um pouco por toda a Europa: com o fecho do mercado de transferências na China, na terça-feira, os clubes europeus podem durante mais alguns meses ter a certeza de contar com os seus principais jogadores. Era um momento muito aguardado, porque há pouca gente a ficar indiferente à atracção exercida pelos milhões que o futebol chinês tem vindo a desembolsar. Os 16 clubes da Superliga chinesa gastaram no mercado de transferências de Inverno um total de 387,2 milhões de euros, superando o valor investido pelos emblemas da Premier League no mesmo período. Este montante também é superior à soma do que foi gasto pelos clubes franceses, alemães, italianos e espanhóis.

Estes 387,2 milhões de euros representam um novo máximo para o futebol chinês e um salto de gigante em comparação com o que foi gasto na mesma altura, há quatro anos: em 2013 o investimento em reforços ficou-se pelos 29,1 milhões, um valor 13 vezes inferior, segundo dados recolhidos pela britânica BBC. Após semanas de expectativa, acabou a especulação e o campeonato chinês deste ano começa finalmente amanhã, com um duelo entre o recém-promovido Guizhou Hengfeng e o Liaoning Whowin, décimo classificado da Superliga na época passada.

O assédio durou até aos derradeiros instantes, apesar das regras mais apertadas a limitar o número de jogadores estrangeiros (cinco autorizados por equipa, um deles asiático, sendo que apenas três podem alinhar por partida). Wayne Rooney terá estado perto de deixar o Manchester United e Diego Costa (Chelsea) ou Edinson Cavani (Paris Saint-Germain) também foram alvos de interesse. Nos últimos dias terão sido feitas propostas por Mitroglou e Bas Dost, mas tanto o goleador do Benfica como o do Sporting recusaram rumar ao futebol chinês. Se algum destes negócios tivesse ido avante, ficaria seguramente entre as transferências mais caras deste período de transferências, apenas aquém da mudança de Oscar do Chelsea para o Shanghai SIPG, por aproximadamente 60 milhões de euros. Tal como o brasileiro, outros três dos cinco futebolistas mais caros contratados por clubes chineses neste Inverno actuavam na Europa: Odion Ighalo (Watford), Axel Witsel (Zenit S. Petersburgo) e Alexandre Pato (Villarreal).

Apesar de não constar do "top-5" das transferências mais caras, o argentino Carlos Tévez, actualmente com 33 anos, tornou-se o futebolista mais bem pago do mundo ao trocar o Boca Juniors pelo Shanghai Shenhua, onde receberá qualquer coisa como 40 milhões de euros por ano.

Não foi agora que a China descobriu o prazer de fazer compras no futebol europeu, mas o perfil dos futebolistas que rumam a Oriente é diferente: são jogadores ainda em idade competitiva e longe do final da carreira – Oscar tem 25 anos, Ighalo e Pato têm 27 e Witsel completou 28 em Janeiro. “Há dois anos isto seria impensável. O facto de o empresário de Cristiano Ronaldo dizer que recusou somas enormes, o facto de o empresário de Wayne Rooney ter viajado para a China para avaliar se as propostas eram reais, mostra que estas transferências, se nesta fase ainda não são prováveis, já são definitivamente possíveis”, notou à ITV o fundador do portal China Sports Insider, Mark Dreyer, que há dez anos acompanha o futebol chinês.

Da mesma forma, a atracção faz-se sentir para os treinadores. Esta temporada marca a estreia de André Villas-Boas no futebol chinês: o técnico de 39 anos tornou-se num dos mais bem pagos do mundo ao assinar pelo Shanghai SIPG com um salário a rondar os 13 milhões de euros. Jaime Pacheco já estava pela China, assim como o ex-seleccionador nacional Luiz Felipe Scolari ou o chileno Manuel Pellegrini, campeão em Inglaterra pelo Manchester City. E ao leme da selecção está o italiano Marcelo Lippi, que aos 68 anos aceitou regressar ao activo para tentar a qualificação para o Mundial 2018.

Isto é possível graças ao músculo financeiro por trás dos clubes chineses: cada um dos 16 emblemas da Superliga tem uma empresa por trás, com dois terços dos clubes a serem apoiados por companhias estatais ou do ramo imobiliário. O envolvimento do Governo chinês no futebol não é segredo para ninguém. O presidente Xi Jinping é um adepto confesso de futebol e tem a ambição de tornar a China uma super potência mundial da modalidade até 2050. Só este ano, segundo a BBC, o objectivo é construir 20 mil escolas de futebol e formar 100 mil jovens futebolistas. Também se discute um tecto salarial para combater os gastos “irracionais”. “O excessivo investimento em estrangeiros sobrevalorizados, ao mesmo tempo que se negligencia o desenvolvimento dos jovens, tem dificultado o desenvolvimento a longo prazo [do futebol na China]”, lia-se no diário oficial China Daily, no início do ano.

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