João Braga acusado de racismo e homofobia por comentário aos Óscares

"A distribuição dos Trumps – Agora basta ser-se preto ou gay para ganhar os Óscares", escreveu o fadista no Facebook, antes de ser saraivado pelas críticas dos que consideraram o comentário racista e homofóbico. SOS Racismo vai apresentar queixa.

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João Braga, à esquerda Pedro Cunha

A atribuição do Óscar de Melhor Filme a Moonlight, um filme sobre o que significa ser jovem, negro e homossexual na América de hoje, não terá caído bem ao fadista português João Braga. Num comentário deixado na sua página do Facebook, e numa altura em que já se sabia que a estatueta não pertencia afinal a La La Land: Melodia de Amor, o fadista escreveu: “A distribuição dos Trumps – Agora basta ser-se preto ou gay para ganhar os Óscares”. Indiferentes à pretensa ironia, os amigos e nem por isso do Facebook inundaram a caixa de comentários do fadista com centenas de acusações de racismo e homofobia.

Manifestando também o seu repúdio por tais declarações, que qualificou como "profundamente racistas e homofóbicas", a associação SOS Racismo anunciou em comunicado que vai apresentar uma participação à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, "exigindo bom senso e sentido de responsabilidade dos diferentes actores sociais" para que estes não andem a sedimentar preconceitos, alimentar estereótipos e a legitimar racismos. É que, no diálogo que entretanto estabeleceu com os seus "amigos" no Facebook, João Braga acabou por qualificar como "imbecis, curtos de cerebelo e preconceituosos" todos os que o apelidaram de racista e homofóbico, "entre outras aleivosias". 

A maioria das reacções ao post sobre "a distribuição dos Trumps" é irreproduzível pelo tom insultuoso, mas, entre quem aconselha o fadista a estudar o seu próprio ADN e os que sumarizam as descobertas alcançadas por inúmeros negros nos mais diversos campos científicos, os mais suaves constatam, por exemplo, que “já não basta ser idoso e experiente para se ser bem-educado, bem formado e respeitável”. E abundam, além disso, as fotografias de homossexuais a trocar carícias.

Algumas horas depois da publicação inicial, o fadista voltou à sua página no Facebook para, num novo post escrito em maiúsculas, reagir do seguinte modo: “Chiça, que os herdeiros de Estaline são mesmo avessos à liberdade de expressão!”.

O PÚBLICO não conseguiu contactar o fadista. Mas, em declarações à revista Flash, João Braga mostrou-se surpreendido com a virulência das reacções, já que, sustentou, o que escreveu não pretendia ser mais do que “uma ironia” e “uma graçola”. “Pus aquilo em tom irónico, sem ofender ninguém", considerou. Assim, o que o fadista quereria ter dito, segundo as explicações do próprio, é que o tom de pele não deve ser critério para coisa alguma. “Já o ano passado aquela revolta do Spike Lee [realizador que reclamou por não haver negros entre os nomeados para os Óscares] é uma coisa incompreensível. Não é por um gajo ser preto, tibetano ou chinês que merece mais ou menos receber um Óscar”, enfatizou Braga, replicando uma explicação que ele próprio colocou na rede social, em resposta a alguns dos comentários, e onde atribui as escolhas da edição deste ano dos Óscares "à campanha que o senhor Lee fez no ano passado". O fadista lamentou ainda que a noite dos Óscares se tenha transformado "num comício político" anti-Trump.

De resto, para o fadista os insultos de que foi alvo inscrevem-se no que considera ser uma tendência generalizada que leva a que haja reacções desproporcioandas sempre que alguém fala em “pretos” ou “gays” nas redes sociais. “Ou saltam do armário ou saltam da cubata”, sintetizou.

 

Notícia corrigida às 18h40 de 1 de Março: identifica-se Spike Lee como realizador 

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