Do Batalha ao bacalhau, o Porto visto através de objectos e lugares

A edição de 2017 do ciclo "Um Objecto e os seus discursos por semana" começa este sábado, com uma visita ao cinema que o município vai reabrir.

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Rui Moreira e Alexandre Alves Costa abrem as sessões deste ano de Um Objecto e os Seus Discursos... ADRIANO MIRANDA

Uma visita guiada pelo Arquitecto Alexandre Alves ao Cinema Batalha inaugura este sábado, pelas 18h, mais um ciclo de sessões “Um Objecto e os seus discursos por semana”, que o município do Porto lançou em 2014 pela mão do vereador Paulo Cunha e Silva, que morreu em Novembro de 2015. A iniciativa, apresentada como uma forma de fazer de toda a cidade um palco para a cultura tem mais 31 encontros marcados com mais de 90 pessoas, peças e espaços que, à sua maneira, nos ajudam a conhecer melhor o Porto.

Como em anos anteriores, a entrada para muitas das sessões custa um euro, mas há outras que são de acesso gratuito. É o caso da primeira, na qual o próprio presidente da Câmara, Rui Moreira, vai moderar a conversa entre o arquitecto, chamado a reabilitar o edifício projectado por Artur Andrade que o município arrendou e vai reabrir, e Sara Antónia Matos, directora do Atelier-Museu de Júlio Pomar. O artista plástico, recorde-se, foi convidado a refazer os frescos que pintara no interior do cinema e que a PIDE mandou tapar em 1946.

Como acontece desde a primeira edição, o âmbito das escolhas deste novo ciclo de Um Objecto e os Seus Discursos… é tão alargado que nele cabem o Batalha ou o Bacalhau à Gomes de Sá, motivo para uma conversa, marcada para 3 de Junho, no Muro dos Bacalhoeiros, na casa onde nasceu o comerciante José Luís Gomes de Sá, inventor de uma receita típica da cidade. Nesse dia os convidados serão Hélio Loureiro e o historiador Júlio Couto, mediados por Graça Lacerda.

Depois de dezenas e dezenas de sessões, seria de esperar alguma dificuldade para encontrar pontos de interesse mas, para já, a cidade vai dando conta do recado. E no ciclo deste ano podemos conhecer melhor o Porto da comunidade judaica (a 18 de Novembro, na Sinagoga), da comunidade do Bangladesh (23 de Setembro, na Rua Chã), dos alemães que aqui abriram um dos mais conhecidos colégios (22 de Abril) e dos ingleses, através do seu cemitério, na véspera da noite das queimadas, tradição celta celebrada a 5 de Novembro.

Depois da passagem pelo Batalha, as primeiras sessões incluem uma conversa em torno do primeiro livro impresso no Porto, no Seminário Maior (11 de Março), uma visita ao Museu da Farmácia, em Ramalde, que tem como ex-libris uma farmácia islâmica de um palácio de Damasco do século XIX (18 de Março) e uma passagem pela Casa Museu Guerra Junqueiro e pela exposição relativa aos 150 anos do nascimento de Raul Brandão, lembrado através de um objecto peculiar: O guião de O Gebo e a Sombra autografado por Manoel de Oliveira, que adaptou esta obra ao cinema em 2012 (25 de Março).

“Falamos de património, e portanto de valor absoluto, com importância cultural, histórica, arquitectónica, paisagística, arqueológica, industrial, científica, gastronómica, até mitológica e do imaginário colectivo local”, refere Rui Moreira, no texto de apresentação deste ciclo que é a concretização, realizada ano após ano, da cidade líquida que Paulo Cunha e Silva tanto apregoava: aquela onde a cultura deixava de ser exclusiva dos seus palcos tradicionais e poderia acontecer em qualquer lugar.

“É desta forma que entramos em museus, bibliotecas e praias, mas também em associações, restaurantes e barcos, cemitérios, laboratórios ou jardins e hospitais. Debatemos objetos museológicos e simultaneamente ideias, valores e sabores; cruzamos convidados dos quadrantes sociais e dos saberes mais diversos – da engenharia à pesca, passando pelas artes, pela saúde ou pela fé”. Um Objecto e seus Discursos por Semana é conhecimento, inclusão e circulação. É uma experiência de cidade. De toda uma cidade que se projecta no futuro através do amor que nutre pela sua história, acrescenta Rui Moreira que ficou, com a morte de Cunha e Silva, com o pelouro da Cultura.

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