Celebridades transgénero oferecem-se para "explicar" a questão a Trump

Caitlyn Jenner e Jackie Evancho pronunciam-se depois de a Administração revogar directiva de Obama que recomendava às escolas que os alunos escolhessem a casa de banho de acordo com a sua identidade de género.

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Caitlyn Jenner para Donald Trump: “Entre republicanos: isto é um desastre” Mario Anzuoni/Reuters

A decisão da Administração Trump revogar uma medida federal para a protecção de estudantes transgénero nas escolas – que permitiam aos alunos escolher as casas de banho de acordo com a sua identidade de género e não o sexo com que nasceram – levaram a ofertas de figuras públicas para “explicar” melhor a questão ao Presidente.

“Entre republicanos: isto é um desastre”, disse no Twitter Caitlyn Jenner, provavelmente a pessoa transgénero mais famosa da América, atleta medalha de ouro que pertenceu ao clã Kardashian, a realeza dos reality shows, e cuja mudança de género foi anunciada na revista Vanity Fair com uma foto de Annie Leibovitz em 2015. Mas este “desastre” ainda “pode ser evitado”, continuava Jenner no Twitter. “Telefona-me”, disse directamente a estrela, republicana, a Trump.

Também Jackie Evancho, a jovem de 16 anos que aceitou cantar o hino na tomada de posse de Donald Trump, usou o Twitter para pedir ao Presidente que ouvisse adolescentes transgénero sobre a decisão, tomada na quarta-feira, que efectivamente retira a norma federal do anterior Presidente, Barack Obama, e deixa a questão em aberto aos estados. O Presidente “deu-me a honra” de cantar na ocasião e agora “por favor dê-me a honra, a mim e à minha irmã, de um encontro para falar de direitos transgénero”

Evancho apareceu na televisão com a sua irmã, Juliet, de 18 anos, para falar do assunto. “Acho que apenas gostaria de o esclarecer sobre o que enfrentam pessoas como a minha irmã, todos os dias, na escola, é horrível”, disse Jackie. A concorrente do programa America’s Got Talent foi criticada por actuar na tomada de posse justamente por elementos da comunidade homossexual e transgénero, mas esclareceu que para ela actuar naquela ocasião era uma questão de patriotismo e não de apoio político a um presidente específico.

“Já me atiraram coisas”, descreveu Juliet Evancho. “Já houve pessoas que me disseram coisas horríveis. O ambiente não seguro é muito pouco saudável, para todos”, declarou.

Um porta-voz de Trump disse que o Presidente aceitaria o encontro.

Só 16% conhecem pessoas transgénero

A medida da Administração não foi decidida pelo próprio Presidente, que aliás raramente se pronuncia sobre questões sociais (e na campanha disse primeiro que cada pessoa devia usar a casa de banho que quisesse, e de seguida que os estados é que deveriam decidir sobre a questão), mas pelo attorney-general (equivalente a ministro da Justiça), Jeff Sessions. O que faz é abrir espaço para os estados decidirem (a regulação de Obama surgiu quando um estado, a Carolina do Norte, legislou para obrigar os alunos das escolas públicas a usar as casas de banho de acordo com a identidade com que nasceram).

Um rapaz de Nova Jérsia que ganhou visibilidade por ser o primeiro escuteiro transgénero, Joe Maldonado, de nove anos, também apareceu na MSNBC para dizer que a decisão “é ridícula” – “não interessa o teu género, interessa o que sentes”, resumiu, citado pelo Huffington Post, acrescentando que sem a regra nacional, “alguns governadores vão provavelmente dizer que não”, que os alunos não podem usar as casas de banho de acordo com a identidade. “Acho que nenhum estado deveria decidir assim.”

Apesar da directiva de Obama, há vários casos em tribunal, incluindo o de Juliet Evancho, na Pensilvânia, e o de Gavin Grimm, que deverá ser apreciado pelo Supremo.

Terri Burke, da associação de defesa de direitos civis ACLU do Texas – estado que já anunciou que poderá obrigar as escolas a ter a política de não deixar os alunos transgénero usarem a casa de banho de acordo com a identidade de género – admite que a acção da Administração deixa alguns deputados estaduais com margem para agir. Mas considera que a batalha pode ser ganha – com mais conhecimento. “Muitos texanos e pessoas por todo o país não conseguem perceber a identidade de género”, declarou ao jornal Los Angeles Times. Uma sondagem citada pelo USA Today diz que apenas 16% dos americanos conhecem uma pessoa transgénero. “Temos de continuar a educar as pessoas”, sublinha Burke.

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