Jeremy Corbyn volta a jogar o seu futuro, agora num bastião do "Brexit"

Líder trabalhista em risco de perder duas eleições intercalares. Em Stoke-on-Trent, o UKIP tenta eleger o seu líder para o Parlamento.

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Cerca de 70 por cento dos eleitores de Stoke votaram a favor do "Brexit" Darren Staples/Reuters

O Governo está nas mãos de Theresa May, mas enquanto a primeira-ministra britânica navega segura nas águas conturbadas da política pós-“Brexit”, é o líder da oposição, Jeremy Corbyn, que se vê repetidamente contestado. É o que acontece de novo nesta quinta-feira, em eleições intercalares em dois círculos que os trabalhistas se arriscam a perder – um para os conservadores e outro, num resultado que seria ainda mais penalizador, para os populistas do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP)

O líder vindo da ala mais à esquerda do Labour, reeleito há apenas cinco meses após a rebelião da sua bancada parlamentar, sabe que as atenções estão concentradas em si e não poupou esforços para segurar Stoke-on-Trent, antiga capital da indústria cerâmica inglesa. O círculo está desde a sua criação nas mãos do Labour, mas no referendo à União Europeia, em Junho, quase 70% dos eleitores votaram a favor da saída, um de muitos antigos bastiões operários onde o voto contra a UE se alimentou do declínio económico, do descontentamento com a classe política e da retórica anti-imigração.

Quando Tristam Hunt, historiador e jornalista, deixou o lugar no Parlamento para assumir a direcção do museu Victoria and Albert, Paul Nuttall, o recém-eleito líder do UKIP decidiu arriscar o seu futuro político, candidatando-se naquela que gosta de chamar a "capital do 'Brexit'". O Labour fez uma escolha local, mas o ex-conselheiro municipal Gareth Snell tem contra si o facto de ter apoiado a permanência na UE. De certa forma, escreveu o Politico, “este é um outro teste à tese de que o referendo transformou a política britânica, minando antigas lealdades partidárias e reorganizando os eleitores entre os que apoiaram a saída e os que quiseram a permanência”.

No entanto, a campanha de Nuttall foi, no mínimo, desastrada: entre várias polémicas, o candidato foi obrigado a admitir que mentiu quando, em 2011, escreveu que tinha perdido amigos na tragédia de Hillsborough, o pior incidente da história desportiva britânica, em 1989, quando 96 adeptos do Liverpool morreram esmagados no estádio.

Mas com as sondagens a darem como incerto o resultado naquele círculo – além de uma provável vitória dos conservadores em Copeland, que há décadas dá a vitória ao partido na oposição – Corbyn jogou todas as suas armas. “Estas eleições vão ser disputadas no fio da navalha e temos de lutar por cada voto”, disse na semana passada num encontro em que pediu a mobilização de todos os deputados. Ele próprio visitou várias vezes Stoke-on-Trent. Muito mais importante, contudo, foi a estratégia que assumiu de não travar o caminho às decisões de May em relação ao “Brexit” – opção que lhe valeu novas dissensões na bancada parlamentar, mas que permitiram, por exemplo, a Snell garantir que vai batalhar no Parlamento para que a saída da UE “seja aproveitada da melhor forma”, canalizando o dinheiro que até agora era enviado para Bruxelas na melhoria dos serviços públicos.

Não é certo que a estratégia seja suficiente para evitar pelo menos uma das derrotas – a imprensa dá conta de um grande desinteresse dos eleitores pela votação. Mas numa altura em que se acentua a hegemonia dos conservadores (a última sondagem atribui-lhes 16 pontos de vantagem sobre os trabalhistas), Corbyn sabe que se perder Stoke vão desatar-se novamente as pressões para a sua saída. E desta vez, escreveu o Independent, vai descobrir que tem menos amigos do que em crises anteriores”.

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