Há 1,4 milhões de crianças em risco de morrer de fome nos próximos meses

O Programa Alimentar Mundial diz que são 20 milhões as pessoas que podem morrer até ao fim do Verão em quatro países.

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No Sudão do Sul a ONU tem lançado embalagens de alimentos a partir de aviões Siegfried Modola/Reuters

Quatro países estão ameaçados pela fome em 2017. “Isto não tem precedentes. Até agora, nunca tínhamos visto mais de dois ao mesmo tempo”, diz o director adjunto do Programa Alimentar Mundial, Peter Smerdon. A este ponto chegaram por causa da violência da guerra o Iémen, o Sudão do Sul e a Nigéria, e por causa da seca a Somália.  

Entre estas pessoas, perto de 1,4 milhões são crianças, avisa a UNICEF. O director da agência da ONU para a infância, Anthony Lake, pede ao mundo para agir depressa.

“Quando chegamos ao estado de fome já é demasiado tarde para muitas pessoas”, explica Peter Smerdon, entrevistado pela televisão France 24. “Não podemos deixar o mundo viver em tais extremos de sofrimento. É preciso que a comunidade internacional pressione os governos e os grupos rebeldes para impedir que estas regiões caiam em conflitos prolongados crónicos. Assim, mesmo em caso de seca ou de alterações climáticas, podemos ser capazes de intervir antes da fome”.

Segundo a UNICEF, as crianças identificadas já sofrem de malnutrição, nalguns casos muito prolongada. Os dois países mais afectados são o Iémen e a Nigéria.

É no Iémen que há mais crianças severamente malnutridas: são pelo menos 462 mil. Em Outubro, a mesma UNICEF estimava que no país mais pobre da Península Arábica houvesse 1,5 milhões de crianças a sofrer de malnutrição, incluindo 370 mil de “malnutrição aguda severa, que enfraquece o sistema imunitário a um ponto em que se multiplicam por dez os riscos de morte”. Hoje, há 2,1 milhões de crianças malnutridas e 18,8 milhões de pessoas – mais de dois terços da população – a precisar de ajuda alimentar.

“Dois anos de guerra devastaram o Iémen e milhões de crianças, mulheres e homens precisam desesperadamente da nossa ajuda”, sublinha o chefe das operações humanitárias da ONU, Stephen O’Brien. A pretexto da guerra civil entre o Governo e rebeldes xiitas, a Arábia Saudita lançou uma intervenção militar em Março de 2015 coligada com outros países árabes: os bombardeamentos no porto de Hodeida impedem a chegada de alimentos, já que o Iémen importa quase tudo o que consome.

Na Nigéria, há 450 mil crianças em risco na região Nordeste do país, onde se concentram as operações do grupo islamista Boko Haram. De acordo com a Fews Net, a Rede de Sistemas de Alerta Precoce Contra a Fome, já há fome desde o fim do ano passado nas zonas mais remotas da província nigeriana de Borno. Face à impossibilidade de chegar às vítimas, a situação só vai piorar, avisa a UNICEF. “Ainda podemos salvar muitas vidas”, diz Anthony Lake num comunicado.

A seca deixou 185 mil crianças em risco extremo na Somália e este número deve crescer para as 270 mil nos próximos meses, enquanto no Sudão do Sul, a guerra civil e a seca levaram três agências da ONU a declarar o país em situação de fome. “Uma declaração formal de fome significa que as pessoas já começaram a morrer. A situação é a pior catástrofe de fome desde que os combates irromperam, há mais de três anos”, dizem num comunicado os responsáveis do PAM, da UNICEF e da FAO, a Organização para a Agricultura e a Alimentação das Nações Unidas.

 

 

 

 

 

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