A Casa Branca em agitação permanente

No combate a um presidente empenhado em dividir a nação, restam duas alternativas.

Agastado com a realidade, Donald Trump regressou aos tempos de campanha eleitoral. É o seu meio natural, onde recorda as alegrias da vitória e esquece as várias humilhações que já viveu neste mês de mandato.

Será um traço recorrente. O populista Trump vai tentar manter um laço directo com o povo, desvalorizando as outras instituições que são o garante do equilíbrio de poderes nos Estados Unidos. Para o conseguir vai apostar no desgaste e no confronto permanente, enfatizando o que separa e divide as duas Américas. É um registo que facilmente será seguido pela oposição, até porque é fácil. Mas é o caminho errado. Jorge Almeida Fernandes resume muito bem o problema hoje aqui nas páginas do PÚBLICO: “Se a oposição a Trump manifestar desprezo pelo seu eleitorado, é o Presidente quem marca pontos.”

Os fãs vão permanecer incondicionais, tal como os que o receberam num aeroporto na Florida — e o Presidente vai continuar a dar-lhes motivos para acreditarem na figura polarizadora que “faz o que promete”, mesmo que o resultado final seja o oposto. O comício de sábado à noite foi, aliás, sintomático: o ataque à imprensa e à Justiça e as mentiras repetidas sobre crimes cometidos por imigrantes são exemplos de quem precisa constantemente de inventar inimigos para recriar uma realidade paralela que distraia da dura realidade.

Mas o Presidente americano não o poderá fazer este jogo a nível global — por mais que odeie a globalização e as suas consequências, Trump tem de lidar com elas. Tem de viver num mundo em que as interdependências acontecem efectivamente, em que milhões de americanos estão expatriados, em que as decisões económicas e financeiras estão deslocalizadas e em que é preciso negociar com parceiros poderosos.

No combate a um presidente empenhado em dividir a nação, restam duas alternativas. A primeira é esperar por um levantamento popular que apoie todos os candidatos que se opõem a Trump, levando a que as eleições de 2018 sejam um plebiscito presidencial — e uma forma de o atacar depois de contados os votos. A outra alternativa, que depende desta, será esperar que os republicanos vejam Trump como uma ameaça à sua própria sobrevivência — quer a imediata nas urnas, quer a de longo prazo, considerando a saúde da nação. Mas é melhor que os Estados Unidos — e o resto do mundo — se preparem para um longo período de agitação nervosa.

 

dqandrade@publico.pt

 

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