Portugal repete juros negativos ao emitir dívida de curto prazo

Tesouro conseguiu 1250 milhões de euros. Taxa de juro da dívida a três meses foi a mais baixa de sempre.

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Cristina Casalinho lidera o IGCP, a agência responsável pela gestão da dívida Nuno Ferreira Santos

O Tesouro português voltou a conseguir taxas de juro negativas ao ir ao mercado nesta quarta-feira levantar fundos através de títulos de dívida de curto prazo, a reembolsar aos credores dentro de três e 11 meses.

O IGCP, a agência responsável pela gestão da tesouraria e da dívida pública, obteve no mercado 1250 milhões de euros, dos quais mil em Bilhetes do Tesouro com prazo de 11 meses e os restantes 250 milhões em títulos a três meses.

No primeiro caso, a taxa de juro média foi de -0,096%, quando na última emissão idêntica, em Outubro, se registara uma taxa positiva de 0,006%, e também mais baixa do que a observada em Janeiro numa emissão com um prazo muito aproximado, a 12 meses, em que o valor foi de -0,047%.

Nos títulos a três meses, a taxa conseguida na emissão desta quarta-feira foi de -0,219%, um valor historicamente baixo, depois de em Outubro se verificar um juro de -0,012%.

Quando se registam juros negativos significa que os investidores que decidem comprar a dívida emprestam ao Tesouro um valor superior àquele que vai ser reembolsado na data de vencimento desses títulos – mas nos movimentos de venda e troca de dívida que se fazem nos mercados os investidores podem não conservar esses bilhetes até à data de reembolso e aí conseguirem uma mais-valia na transacção dos títulos.

Na emissão dos 250 milhões de euros de dívida a três meses, “a descida da taxa foi bastante acentuada e levou-nos para mínimos históricos – Portugal nunca se financiou a taxa tão baixa como esta”, sublinha Filipe Silva, director de gestão de activos do Banco Carregosa. Uma trajectória que o corretor diz não ter sido uma surpresa, “uma vez que o mercado secundário tem estado com as taxas negativas para a dívida de curto prazo”.

Ao ir ao mercado emitir dívida de curto prazo, o IGCP, liderado por Cristina Casalinho, foi acompanhar a curva de juros “que se verifica na Europa, aproveitando para emitir com taxas negativas, o que é sempre positivo para o país”, enfatiza Filipe Silva, num comentário enviado às redacções.

Diferente dos juros que Portugal tem conseguido ao emitir dívida com prazos mais curtos – a reembolsar dentro de três, seis, 11 ou 12 meses – são as taxas que se verificam nas emissões de dívida com prazos mais longos, a cinco ou dez anos. Na última emissão a dez anos, realizada em Janeiro, Portugal conseguiu 3000 milhões de dívida a uma taxa de 4,227%, os mais elevados em três anos. Um valor que a presidente do IGCP, Cristina Casalinho, classificava esta semana em entrevista ao PÚBLICO como uma taxa aceitável para Portugal no actual contexto em que se tem assistido a um agravamento para vários países europeus. “As taxas subirem um bocadinho não é necessariamente mau para se registar uma normalização e os investidores voltarem a sentir-se confortáveis com a dívida pública europeia”, lembrava Casalinho.

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