Neste Inverno, a gripe das aves na China pode ser a pior de sempre

Desde Outubro, a estirpe H7N9 já matou 100 pessoas.

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Vendedor de frangos na China JIANAN YU/Reuters

No último mês, a estirpe H7N9 da gripe das aves causou 79 mortes na China, anunciou o Governo chinês, que está preocupado que a propagação do vírus neste Inverno seja a pior de que há registo.

As mortes em Janeiro foram quatro vezes mais elevadas do que no mesmo mês nos últimos anos. A estirpe H7N9 também já tirou a vida a 100 pessoas desde Outubro. Estes dados foram divulgados pela Comissão Nacional de Saúde e Planeamento Familiar da China.

As autoridades têm repetidamente dito à população para se manter alerta em relação ao vírus da gripe das aves, e advertido contra o pânico na China, a segunda maior economia mundial.

Mas os últimos dados sobre a gripe das aves têm desencadeado preocupações quanto à repetição de uma crise de saúde, como a que aconteceu em 2002 com o surto da síndrome respiratória aguda (SARS, na sigla em inglês).

“Já estamos a meio de Fevereiro e apenas temos os números de Janeiro. Com o número de mortes quase a apanhar os da SARS, não devíamos ter feito os alertas mais cedo?”, disse um utilizador do blogue Sina Weibo.

Outros utilizadores da blogosfera chinesa também se mostraram preocupados quanto à velocidade de propagação das infecções, e pediram relatórios de saúde mais actualizados.

O People's Daily, o jornal oficial do Partido Comunista chinês, alertou para que as pessoas fiquem longe dos mercados de aves, dizendo que foi “extremamente claro” que as aves e os seus excrementos foram a causa destas infecções.

“A situação ainda está em curso e todas as partes estão a investigar activamente e a reportar os casos”, refere o Gabinete da Organização Mundial da Saúde (OMS) na China num e-mail enviado à agência Reuters. “A investigação está em curso e é prematuro tirar conclusões do número crescente de casos. Além disso, sabemos que a maioria de casos em seres humanos deste vírus dá-se pelo contacto com aves infectadas ou ambientes contaminados, incluindo os mercados de aves.”

Na última quarta-feira, os preços dos frangos na China desceram para os valores mais baixos da década. Receia-se que os vendedores de carne combinem preços entre si, devido ao receio que a gripe das aves abale a procura num dos maiores mercados de aves do mundo.

Registo de muitas infecções

A China, que foi o primeiro país a reportar infecções humanas desta estirpe do vírus da gripe das aves em Março de 2013, tem tido uma subida significativa do número de casos de H7N9 desde Dezembro. Os números oficiais do Governo chinês reportam a detecção de 306 casos desde Outubro, 192 dos quais no último mês.

Mas outras fontes defendem que o número de infecções ainda é mais alto. Na última semana, o Centro para Investigação e Políticas de Doenças Infecciosas (CIDRAP, na sigla em inglês) da Universidade do Minnesota (Estados Unidos) estimou que tenha havido pelo menos 347 casos durante este Inverno, ofuscando os 319 casos registados há três anos.

Tendo por base os números semanais, é difícil dizer se os casos de H7N9 na China ainda continuam a subir ou se já atingiram o pico, refere um comunicado no site da CIDRAP, de 10 de Fevereiro.

Alguns serviços de saúde das províncias da China anunciam casos individuais à medida que são confirmados, enquanto outros ainda não disponibilizaram os números de infecções e esperam para os incluir em relatórios mensais.

“Um factor importante em surtos anteriores de H7N9 entre seres humanos na China tem sido o encerramento dos mercados de aves”, afirma Ian Mackay, virologista da Universidade de Queensland, na Austrália. “Parece-me que a resposta a este surto tem sido mais lenta durante este Inverno, o que pode levar a um grande número de humanos expostos a aves infectadas.”

A maioria dos casos de seres humanos infectados com a estirpe H7N9 tem sido reportada no Sul da China e em zonas costeiras do país. Em Hong Kong, onde dois em cada quatro doentes infectados com H7N9 morreram este Inverno, as fontes oficiais de saúde dizem estar atentas à situação e poderão aumentar o controlo às quintas de produção de aves. A primeira pessoa infectada com a estirpe H7N9 em Pequim foi reportada este ano pela primeira vez no último sábado. O doente é um homem com 68 anos da cidade de Langfang, na província vizinha de Hebei. Esta última terça-feira foi confirmado o segundo caso em Pequim.

“Um elevado número de casos esporádicos continua a ser reportado”, refere ainda a OMS. “Enquanto o vírus influenza continuar a circular entre as aves, as infecções esporádicas ou pequenos grupos de seres humanos infectados é possível.”

A OMS disse recentemente que não tem conseguido descartar a possibilidade de propagação dos surtos de humanos para humanos, embora não tenham sido detectadas propagações que o sustentem até agora.

A Comissão Nacional de Saúde e Planeamento Familiar de Yunnan, uma província no Sudoeste da China, disse que uma mulher morreu de H7N9 na terça-feira à noite. A vítima era mãe de uma criança pequena, que morreu de H7N9 este mês, noticiou a agência de notícias chinesa Xinhua na última quarta-feira. As duas tinham viajado para Jiangxi no último mês e tinham contactado com aves ainda vivas nesta província do Sudeste da China. A mãe apresentou sintomas a 4 de Fevereiro, foi hospitalizada quatro dias depois e mantida longe da sua filha, que também morreu, a 7 de Fevereiro.

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