Novas acusações a polícia que brutalizou jovem francês

Mais distúrbios nos subúrbios de Paris por causa de Théo, brutalizado pela polícia há duas semanas. Relação da polícia com cidadãos de novo no centro de debate. Estudo mostra que 80% dos jovens árabes ou negros foram interpelados pela polícia, comparando com 16% da restante população

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No dia 8 de Fevereiro, o jovem recebeu a visita no hospital do Presidente francês, François Hollande LUSA/Arnaud Journois / HANDOUT

O ministro do Interior francês, Bruno Le Roux, pediu esclarecimentos à Inspecção Nacional da Polícia sobre novas acusações à polícia feitas por um amigo de Théo L.., o jovem que foi brutalizado há duas semanas pela polícia. Mohamed K., também morador de Aulnay-sous-Bois, nos subúrbios de Paris, disse ter sido espancado uma semana antes de Théo pelo polícia acusado de ter violado o jovem de 22 anos com um bastão. Numa reportagem publicada pelo L’Obs, Mohamed K. diz ainda que lhe chamaram de “preto sujo”.

“São acusações graves ao mesmo funcionário, que merecem obviamente ser esclarecidas”, disse o porta-voz do Ministério do Interior à AFP.

Este é o caso que tem ocupado os media franceses nas últimas semanas. O Presidente francês chegou até a fazer uma visita a Théo no hospital no dia 8. Os polícias alegaram que o jovem resistiu numa busca feita a uma zona de tráfico de droga, mas investigações ao caso, que continua a ser analisado, têm revelado violência desmedida. Hospitalizado em sequência do episódio com a polícia, Théo foi diagnosticado com fortes lesões no canal anal, relata o Parisien. O jovem não tem qualquer cadastro criminal.

Em plena campanha eleitoral para as presidenciais de Abril e Maio, os distúrbios voltaram aos subúrbios de Paris, com detenções feitas pela polícia em vários pontos. No sábado, uma manifestação em solidariedade com o jovem Théo, com mais de duas mil pessoas, terminou com carros incendiados e 37 pessoas detidas. Na noite de segunda para terça-feira, cerca de 25 foram detidos pela polícia, em localidades como Seine-Saint-Denis, a Norte de Paris, ou Yvelines, no Sul – isto depois de alguns episódios de violência, diz o Le Monde, que ouviu fontes policiais e oficiais, e depois de outras tantas detenções entre domingo e segunda-feira.

Bruno Le Roux tem apelado à calma, até porque estes episódios voltaram a lembrar os motins de 2005, quando vários carros e edifícios ficaram em chamas ao longo de três semanas de incidentes e o então ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, declarou o estado de emergência. Aulnay-sous-Bois foi uma das cidades onde dispararam os motins.

Jovens negros ou árabes 20 vezes mais abordados pela polícia

No centro do debate tem estado a relação entre a polícia e os subúrbios. Um estudo feito em 2016 pela Provedoria de Justiça, divulgado pelo Le Monde, mostra que os jovens são sete vezes mais controlados pela polícia do que o resto da população.

No estudo, que tem uma amostra aleatória de mais de cinco mil pessoas, disponível na Internet, conclui-se que 80% dos jovens “percepcionados como árabes ou negros” foram interpelados pela polícia nos últimos cinco anos (comparando com 16% do restante), tendo assim uma probabilidade de serem 20 vezes mais abordados pela polícia.

Cerca de 20% desses jovens reportaram ter sido brutalizados no último controlo. O Provedor de Justiça, Jacques Toubon, que abriu um processo de investigação ao caso, disse sobre Théo: “Não se trata de um fait-divers mas de uma questão judicial, uma questão da sociedade”.

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