A alma que sustenta o corpo

Se a tecnologia leva cada um a fugir de si, até onde irá a fuga? Será a escravatura a meta?

Longo, muito longo tem sido o caminho dos humanos das cavernas até aos dias de hoje. E sempre em ascensão para novos patamares de conhecimento. E com a esperança de tornar o velho novo e de tudo desvendar. E de alcançar o que se não alcança. O estatuto de divindade.

Sempre a morte e a vida, na sua roda imparável, a atormentar ou a extasiar. A pequenez diante do universo infinito. A inteligência a esbarrar na decrepitude que conduz à morte de cada ser. A limitação. Sempre em busca da suplantação de abarcar lugares, países, regiões, continentes, mundos, e o Espaço. A sua condição.

Sempre de regresso a si próprio, à sua eterna angustia; mesmo quando afugentada por múltiplas alegrias breves no oceano do efémero. Sempre a olhar a eternidade.

A roda. O fogo. O cavalo. A caravela. O motor. O rádio. A televisão. O foguetão. A nave tripulada. O telemóvel. As novas tecnologias. O feiticeiro e a magia. O encantamento narcísico de quem se olha e se deslumbra na criatura gerada. Um novo sujeito que o liberta do quotidiano, aprisionando-o num quadrado de grades que se não veem.

Neste tempo de incerteza(s) e de conhecidos desconhecimento(s) há um tempo virtual, escapatória do tempo onde o que sucede sucede no mundo comunicacional. Espectadores, apenas.

É um tempo do homem aprisionado a si próprio, desligado do seu irmão de viagem. Tempo dos outros. Tempo que não o é, se não for registado no espaço tecnológico.

De um lado o conhecimento inesgotável, enclausurado; do outro, a morte da sabedoria, do espaço em que o relacionamento entre os seres é feito de modo vivo e tornando a relação fantástica de tão humana.

Já proclamava Nietchze no Crepúsculo dos ídolos…A sabedoria também traz consigo os limites do conhecimento…

O conhecimento que levou a meter o mundo num pequeno quadrado pode levar a uma passividade cruel acerca do papel dos homens como construtores da sua história e do seu futuro. O conhecimento enquanto fator de fechamento ao mundo real e ao isolamento; enorme paradoxo…

Infantiliza os adolescentes e os adultos reconduzindo-os à sala dos brinquedos em que cada um(a) fazia o que queria das suas criaturas.

Não se consegue fazer aos outros o que se faz aos brinquedos, mas o mundo virtual( tal como o tempo das crianças em redor das suas criaturas de brincar) atrai o adulto como a sala dos brinquedos a criança.

Pode o tempo no espaço das novas tecnologias vir a ser um escape para fugir ao tempo real, enquanto meio de construir a história dos humanos?

Perdidos nas várias multidões os humanos fogem da sabedoria longínqua de saber olhar, de ver e de ler o que diz o corpo e a alma dos outros.

É mais fácil absorver a nudez tecnológica do que procurar a alma que sustenta o corpo.

Pode-se olhar e não se ver o que de imediato não se vê. No humano o que se não vê é tão ou mais importante que o que se vê, apesar dos instagram.

Se a tecnologia leva cada um a fugir de si, até onde irá a fuga? Será a escravatura a meta? As grilhetas que amarravam os escravos eram brutais. As que se não sentem, nem doem, mas fecham os olhos abrindo-os à alienação são um risco atual.

 

 

 

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