Autarcas comunistas contra “terminal de aeroporto no Montijo”

Sete dos nove municípios da península de Setúbal querem novo aeroporto em Alcochete por ser uma opção “com pensamento estratégico”. Acusam Governo PS de favorecer ANA com solução mais barata

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Nuno Ferreira Santos

A esmagadora maioria dos municípios da península de Setúbal contestam a hipótese de o Governo decidir avançar com um aeroporto complementar à Portela na Base Aérea N.º 6 (BA6) no Montijo e defendem a construção, faseada, do novo aeroporto internacional na zona do Campo de Tiro de Alcochete.

Tanto o presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS), Rui Garcia, como o autarca de Alcochete, Luis Franco, dizem que um aeroporto complementar no Montijo é um “terminal de aeroporto”.

Sete municípios dos nove que integram a AMRS tomaram esta posição pública numa reunião realizada esta segunda-feira e revelaram que vão pedir uma audiência ao primeiro-ministro. De fora ficaram Montijo, cuja Câmara Municipal é presidida pelo socialista Nuno Canta e apoia o aeroporto complementar, e Setúbal, de maioria CDU, que não participou no encontro. No entanto, a autarquia sublinhou ao PÚBLICO que subscreve a posição da AMRS.

Os autarcas comunistas de Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Palmela, Seixal e Sesimbra queixam-se de não terem sido ouvidos neste processo de decisão e concluíram que “era necessário que os municípios se pronunciassem” antes da assinatura, prevista para quarta-feira, do protocolo entre o Governo e a ANA, Aeroportos de Portugal, que consagra a opção Montijo como a melhor colocada para a localização do aeroporto complementar à Portela.

O presidente da AMRS, Rui Garcia, afirmou que “a solução apontada não corresponde às necessidades e não serve a região da forma mais adequada”.

O autarca de Alcochete acrescenta que há muitas vantagens num novo aeroporto. Segundo Luis Miguel Franco, “o campo de tiro é melhor porque permite a expansão do aeroporto, adequando a dimensão ao crescimento de tráfego, compatibiliza-se melhor com as questões ambientais”, possibilita um melhor e mais equilibrado ordenamento urbano da margem sul, melhores acessibilidades, incluindo ferrovia, e “permite também a conclusão da Plataforma Logística do Poceirão e a construção da terceira travessia sobre o Tejo”.

Em suma, Luís Franco destaca que um novo aeroporto em Alcochete corresponde a um “pensamento estratégico”, enquanto a opção ‘Portela mais um’ “vai esgotar-se rapidamente no tempo”.

O presidente da câmara de Alcochete questiona até as motivações dos governantes para se inclinarem para a criação de um aeroporto complementar. “Importa saber se o Governo está a defender os interesses de Portugal, porque a ANA tem interesse nesta solução menos dispendiosa”, disse Luís Franco, assegurando que a AMRS vai colocar essa questão a António Costa, assim que o primeiro-ministro conceder a audiência que vão pedir.

O autarca comunista refere-se à obrigação de ser a ANA, com base no contrato de concessão assinado com o Estado Português, a financiar a construção dos novos aeroportos na região de Lisboa que o aumento do trafego venha a exigir.

O município do Montijo esteve presente na reunião da AMRS, mas não participou na conferência de imprensa final por não concordar com a posição da maioria comunista.

O autarca Nuno Canta (PS) tem uma “clara opção pela localização do novo aeroporto no Montijo”, e recorda que apoia essa opção “desde que a intenção do Governo passou a ser a expansão do actual aeroporto de Lisboa”.

O autarca socialista demarca-se da posição da maioria dos autarcas vizinhos, afirmando que a AMRS devia ponderar se quer estar “no lado certo ou lado errado da história”.

O apoio de Nuno Canta ao Governo, em matéria de aeroporto, vai ao ponto de “acompanhar as preocupações” de António Costa, manifestadas durante o último debate parlamentar quinzenal, relativamente à necessidade de estudos que avaliem o impacte do aeroporto na BA6 no que diz respeito à migração de aves. 

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