Desde 2009, projecto de apoio à saúde oral já ajudou 4226 pessoas no Porto

Associação Mundo a Sorrir envolve 73 médicos dentistas voluntários que oferecem os seus serviços a crianças institucionalizadas, ex-toxicodependentes e sem-abrigo.

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O medo de ir ao dentista é "exacerbado", descreve Ana Simões, responsável pelo projecto NELSON GARRIDO / PUBLICO

Um projecto dinamizado desde 2009 pela associação do Porto "Mundo a Sorrir" prestou até ao final de 2016 cuidados dentários a 4226 pessoas, desde sem-abrigo a vítimas de tráfico humano, disse esta sexta-feira a coordenadora, Ana Simões.

Envolvendo 73 médicos dentistas voluntários, na sua maioria recém-licenciados, o projecto CASO (Centro de Apoio à Saúde Oral), da Mundo a Sorrir - Associação de Médicos Dentistas Solidários Portugueses, permitiu ainda a colocação aos utentes de 369 próteses oferecidas pelos laboratórios parceiros. "Temos ainda uma lista de 30 a 40 pessoas à espera de próteses", disse à Lusa Ana Simões, a responsável pelo projecto.

Entre os assistidos no âmbito do projecto, que funciona em instalações do Centro Hospital do Conde Ferreira, há "crianças e jovens institucionalizados, idosos, ex-toxicodependentes, sem-abrigo, imigrantes, vítimas de violência doméstica, pacientes portadores de doença mental, de doenças infecto-contagiosas e com debilidade intelectual e cognitiva e vítimas de tráfico humano", segundo a "Mundo a Sorrir".

"O medo de ir ao dentista, nas pessoas que assistimos, em alguns casos está até exacerbado. Acontece, por exemplo, em vítimas de violência doméstica e, por vezes, há reacções de pânico na cadeira", descreveu Ana Simões.

Frisando que o "tratamento "é igual" como se se fizesse no sector privado, a coordenadora referiu que os voluntários "têm de ter um cuidado especial nas abordagens, por exemplo com quem consumiu substâncias ou é portador de doença mental". "Ainda hoje nos chegam pessoas, com 40 ou 50 anos, que nunca foram ao dentista, pessoas para quem a mesma escova serve toda a família e a quem a primeira coisa que os nossos médicos dentistas fazem é ensinar a higiene oral", relatou também Ana Simões.

Em média, segundo a responsável, "cada paciente submete-se a tratamentos superiores a seis meses, ainda que haja casos que chegam ao ano de duração". De acordo com a responsável, "as parcerias são revistas anualmente, sendo que mais de 40 instituições particulares de solidariedade social já colaboraram com o projeto CASO".

"Sem qualquer apoio do Estado", frisou a responsável, os utentes "pagam uma verba simbólica para terem direito ao tratamento, sendo que há sempre o apoio das instituições por trás e noutros casos, quando são crianças institucionalizadas ou menores, a própria instituição assegura esse pagamento", explicou.

Para Ana Simões, nos 11 anos de existência da associação, "trabalhou-se todos os dias para que a 'Mundo a Sorrir' deixe de existir, pois tal significaria que o Estado dava uma resposta universal na saúde oral".

Com voluntários na Guiné-Bissau, Cabo Verde, Porto, Braga e no Algarve, a "Mundo a Sorrir" "aposta numa comunicação forte" para atrair sempre mais gente para o projecto. "Marcamos presença em seminários, nas faculdades, em congressos e noutros eventos científicos, mas também temos uma rede de parceiros, amigos e conhecidos que passam a palavra, pelo que as pessoas já nos vão conhecendo", argumentou.

Segundo Ana Simões, duas vezes por ano, a organização promove "uma sessão para formar voluntários permitindo-lhes não só conhecer a 'Mundo a Sorrir' e os seus projectos". Logo nesse momento "deixamos claro a quem quiser ser voluntário que devem olhar para a sua função aqui como um todo e não pensar apenas num determinado trabalho ou zona geográfica", argumentou.

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