Rajoy mostra-se disponível para ser o interlocutor de Trump na Europa

Numa conversa telefónica, o líder do Governo espanhol salientou a importância das relações bilaterais em matéria de segurança e defesa.

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O primeiro-ministro espanhol, numa cimeira com os líderes da União Europeia em Malta, na sexta-feira Reuters/YVES HERMAN

O chefe do Governo espanhol falou com Donald Trump ao telefone nesta terça-feira à noite. Na conversa, Mariano Rajoy sublinhou o apoio espanhol à nova Administração norte-americana, oferecendo-se para servir de interlocutor entre os EUA, a Europa, a América Latina, o Norte de África e o Médio Oriente.

Na conversa, que durou 15 minutos (menos cinco do que o previsto), foram abordados “assuntos de interesse comum, como a segurança, a economia e as relações bilaterais”, lê-se na nota de imprensa do Governo de Madrid. A luta contra o Daesh, o fortalecimento das relações entre os dois países e a saída do Reino Unido da União Europeia foram alguns dos temas da conversa, que foi possível graças a dois tradutores.

Trump e Rajoy tinham as questões de segurança e defesa na agenda, como confirma a nota de imprensa do porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, publicada no site da Casa Branca na manhã de terça-feira. Ao longo da conversa, os dois líderes destacaram a importância da relação bilateral dos dois países na luta contra o Daesh. O primeiro-ministro espanhol salientou a colaboração “muito estreita em matéria de inteligência e corpos de segurança”, referindo-se à participação espanhola nas missões de formação do exército iraquiano e à base norte-americana em Rota (Cádiz) e Morón (Sevilha).

Os dois líderes também falaram sobre a Cimeira da NATO, marcada para o próximo mês de Maio, em Bruxelas. A Aliança Atlântica tem sido um dos temas quentes da Administração Trump, e o Presidente norte-americano defendeu publicamente uma partilha mais justa dos gastos com a NATO, que classifica como uma organização "obsoleta". Na conversa com Rajoy, Trump sublinhou que os aliados europeus devem aumentar as contribuições para a defesa conjunta – o mesmo aviso que foi deixado aos líderes franceses e italianos.

“O Presidente Trump interessou-se pela situação da economia espanhola”, regista a nota de imprensa de Madrid. Mariano Rajoy respondeu que com “um Governo estável” e uma economia que registou um crescimento de 3%, Espanha está “nas melhores condições para ser um interlocutor dos Estados Unidos na Europa, na América Latina e também no Norte de África e no Médio Oriente”, ganhando uma nova importância estratégica com a saída do Reino Unido da União Europeia e com a incerteza das relações com a França e a Alemanha.

Os dois mandatários comentaram a questão do "Brexit" e Rajoy transmitiu a sua convicção que “nos próximos meses se irá fortalecer o processo de integração”, salvaguardando que o governo espanhol vai continuar a trabalhar no projecto europeu.

Mariano Rajoy aproveitou o telefonema para reforçar que o país quer desenvolver uma boa relação com a nova Administração dos EUA e não há registos de que se tenham discutido assuntos polémicos, como a construção do muro na fronteira com o México ou a ordem presidencial norte-americana, que veda a entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana.

No entanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Alfonso Dastis, afirmou, durante a sessão de terça-feira no Senado, que Espanha “não renunciará à liberdade de circulação de pessoas e bens” e que vai tentar convencer Washington de que a melhor maneira de lutar contra a imigração ilegal é trabalhar com os países de origem (e de entrada) dos imigrantes, cita o El País. Já o senador Andrés Gil tinha pedido, na sessão da tarde, que Rajoy exigisse “respeito e dignidade” pelo povo mexicano e que quebrasse “o muro de silêncio” do Governo espanhol face a esta questão.

Num tweet posterior ao telefonema, Rajoy escreveu que teve uma “conversa cordial” com o Presidente dos EUA, com vista ao fortalecimento das relações para “benefício dos nossos povos”. “Somos países aliados”, sublinha.

Donald Trump e Mariano Rajoy já tinham falado ao telefone a 12 de Dezembro, mas esta foi a primeira conversa oficial desde a tomada de posse do norte-americano. Terminada a conversa, Donald Trump ligou ao chefe de Estado turco, Recep Erdogan

Texto editado por Hugo Torres

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