“Um desastre, uma loucura” e um final feliz para o Atlético Tucumán

Chegaram atrasados, jogaram com equipamentos emprestados, mas seguem na Libertadores.

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É a selecção argentina? Não, é o Atlético Tucumán Reuters/GUILLERMO GRANJA

O observador mais distraído ia pensar que estava a assistir a uma partida da selecção argentina. Mas onde estavam Messi, Higuaín ou Agüero? As camisolas albicelestes que os futebolistas sobre o relvado envergavam eram mesmo as da Argentina, mas jogava-se uma partida de clubes: o Club Deportivo El Nacional, do Equador, recebia os argentinos do Atlético Tucumán nas pré-eliminatórias da Taça dos Libertadores.

É estranho uma equipa entrar em campo com a camisola da selecção, mas isso é apenas um detalhe na autêntica epopeia que o Atlético Tucumán viveu para conseguir estar no relvado e defrontar o El Nacional. Estreante na Taça dos Libertadores, o clube conhecido como “El Decano” já tem uma história digna de ser contada e recordada por muitos anos.

Apurado pela primeira vez para a Taça dos Libertadores graças ao quinto lugar no campeonato argentino de 2016, o Atlético Tucumán estreou-se em casa, com um empate 2-2. A segunda mão seria disputada em Quito, no Equador, a uma altitude superior a 2700 metros. E foi aí que se desencadeou uma série de eventos imprevistos que o diário desportivo argentino Olé explicou em detalhe. Tudo começou por o clube decidir atrasar a viagem para a capital equatoriana de maneira a preservar os seus jogadores dos efeitos da altitude. “El Decano” viajou assim para Guayaquil, cidade que fica ao nível do mar, e só a poucas horas do jogo iria para Quito.

As coisas começaram a complicar-se: a empresa aérea que devia transportar a equipa de Guayaquil para Quito, a chilena Mineral Airways, afinal não tinha autorização para fazer voos locais. Os responsáveis do Atlético Tucumán demoraram três horas a arranjar uma alternativa, e quando a conseguiram a delegação pôde seguir viagem – ou parte dela, pelo menos. Houve lugar para 19 atletas e seis elementos da equipa técnica, mas por exemplo o presidente teve de esperar por outro voo. A 40 minutos da hora prevista para o pontapé de saída, o Atlético Tucumán estava a partir de Guayaquil.

Nessa altura, em Quito, os dirigentes do El Nacional estavam dispostos a esperar os 45 minutos previstos no regulamento e nem mais um instante. O atraso do Atlético Tucumán ditaria a derrota dos argentinos por falta de comparência. A equipa aterrou em Quito 15 minutos depois da hora do jogo, e no aeroporto já havia um dispositivo montado para providenciar uma saída rápida. O trajecto de aproximadamente 30 quilómetros até ao estádio fez-se “em tempo recorde”, escreve o Olé, com polícia a abrir caminho e o autocarro a chegar aos 130km/h.

“Somos novos nisto”

Entretanto, o embaixador da Argentina no Equador, Luis Alfredo Juez, interveio para pedir compreensão ao El Nacional. Depois de uma reunião entre elementos dos dois emblemas, o secretário do Atlético Tucumán, Mario Avila, anunciava que havia acordo para disputar a partida: “Agradeço-lhes a compreensão. Nós somos novos nisto e o problema não foi da responsabilidade do clube.”

A equipa argentina chegou ao estádio quase uma hora depois do horário previsto para o início da partida, numa correria. “É um desastre, uma loucura”, afirmou de passagem o capitão “Pulga” Rodríguez. Mas ainda não era o fim desta viagem épica: como a bagagem não pôde ser despachada, o Atlético Tucumán recebeu por empréstimo os equipamentos da selecção argentina sub-20, que se encontra em Quito onde jogará nesta quarta-feira – precisamente no mesmo estádio do duelo da Libertadores. Daí que os jogadores do “Decano” tenham entrado em campo com números e nomes que não correspondem aos seus, ainda que as cores sejam praticamente idênticas, porque o clube também veste de albiceleste.

Os jogadores argentinos subiram ao relvado às 22h38 locais, com um curtíssimo aquecimento prévio, e o pontapé de saída era dado cinco minutos depois – com uma hora e meia de atraso em relação ao inicialmente previsto. O resto foi história: Fernando Zampedri fez, no segundo tempo, o único golo do encontro, que deu o triunfo ao Atlético Tucumán e permite aos estreantes continuarem na Taça dos Libertadores. Um feito celebrado até por Diego Maradona. “Somos todos tucumanos”, disse o ícone argentino, considerado por muitos um dos melhores da história do futebol.

O derradeiro obstáculo a separar o Atlético Tucumán da fase de grupos da Libertadores 2017 são os colombianos do Junior de Barranquilla. O mínimo que o “Decano” pode fazer é planear as coisas com antecedência para toda a gente poder estar mais tranquila: até os adeptos sofreram com a epopeia vivida pela equipa, com uma centena (que tinha lugar no avião fretado para ir de Guayaquil para Quito) a ficar em terra, e um outro grupo a ir parar, supostamente por engano da companhia aérea, ao aeroporto de Santa Rosa, a mais de 600 quilómetros do Estádio Olímpico Atahualpa, em Quito, onde se disputou a partida.

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