Afinal, os lisboetas gostam do aumento de turistas na cidade, conclui estudo

Sector gerou mais de 8,4 mil milhões de euros em 2015, na região de Lisboa. Para assinalar os 20 anos da associação, Turismo de Lisboa procurou as opiniões de quem vive e trabalha na cidade. E ficou surpreendida.

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Fabio Augusto

“Positivo ou muito positivo”: é assim que a maioria dos inquiridos (90%) num estudo, apresentado esta terça-feira pela Associação de Turismo de Lisboa (ATL), avalia o aumento do fluxo de turistas em Lisboa. O estudo sobre a opinião dos residentes e trabalhadores sobre o turismo em Lisboa, realizado entre Novembro de 2016 e Janeiro de 2017, chegou à conclusão que mais de 90% dos 1007 inquiridos acredita que o sector tem contribuído positiva ou muito positivamente para a cidade, a região de Lisboa e o país.

Este é um sector que, na região de Lisboa, gerou mais de 8,4 mil milhões de euros em 2015, cresceu cerca de 8% em dez anos, e emprega quase 150 mil pessoas. Dados de um outro estudo, realizado pela consultora Deloitte para a ATL, indicam que, apenas na cidade de Lisboa, o sector cresceu 9,5% entre 2005 e 2015. A hotelaria viu os seus proveitos aumentarem cerca de 240 milhões de euros e a restauração 200 milhões de euros nesta década. Ainda assim foi a animação turística que mais cresceu, tendo rendido 75 milhões de euros em 2015, 2,8 vezes mais que em 2005.

Nestes dez anos, o número de hóspedes na cidade e na região mais do que duplicou, num crescimento particularmente acentuado a partir de 2013. Ao mesmo tempo, Lisboa assistiu a um aumento da oferta: 7000 novos quartos de hotel e 6000 novos quartos de alojamento local, viu fazerem escala mais 55 cruzeiros por ano e erguer-se um novo casino. Na região houve sete vezes mais congressos e reuniões e quatro novos campos de golfe.

Um cenário que parece agradar a mais de 80% dos inquiridos, que se mostraram satisfeitos ou muito satisfeitos com o aumento do número de turistas na cidade.

Para além da “evidente satisfação com o sector”, salientada por Vítor Costa, director-geral da Associação Turismo de Lisboa, 61% dos inquiridos diz que não existe qualquer desvantagem associada à actividade turística. Os restantes apontaram problemas relacionados com a confusão em locais públicos, o aumento do custo de vida e o ruído.

O que não deixou de ser uma surpresa para a ATL. "Nós tínhamos a sensação de que o turismo se dava com Lisboa, o que talvez nos surpreenda é a dimensão da adesão”, afirmou Vítor Costa, referindo que esperava um “maior distanciamento” dos cidadãos face ao assunto.

Naquilo que é a opinião global sobre o turismo, nota-se que quem vive em Lisboa tem uma opinião “mais entusiasta” que os que se deslocam para trabalhar na capital (pendulares). Destes, 53% sentem que é “um privilégio viver/trabalhar a cidade de Lisboa”, um valor inferior ao número de residentes que pensa da mesma forma (92%).

Grande parte dos residentes (84%) e dos pendulares (81%) respondeu que fazia questão de ser atencioso e prestável com os turistas, ainda que cerca de 20% dos inquiridos admita procurar zonas da cidade que tenham menos visitantes.

Quando se fala em vantagens, a maioria dos inquiridos (mais de 60%) relaciona o turismo com o desenvolvimento económico. O aumento do comércio, a dinamização da cidade e do emprego são sintomas positivos que vêem surgir com o crescimento da actividade, a par da reabilitação urbana e preservação do património, vistos com os maiores impactos do aumento do sector turístico em Lisboa.

Segundo o inquérito, é na mobilidade e transportes, no ruído, no custo e nível de vida, e no mercado habitação que se vêem impactos menos positivos do turismo.

“Os mais velhos, os inactivos, os menos instruídos (e os de status mais baixos)” são os mais críticos da actividade turística. Quem não usa o carro nas deslocações dentro da cidade também está na lista dos mais insatisfeitos. As opiniões mais positivas vêm de pessoas com profissões ligadas ao turismo.

Há outras “zonas com grande potencial” turístico

Na linha da frente, quando se fala nos efeitos nefastos do turismo, estão sempre os bairros históricos de Lisboa. Quem lá mora procura impedir a entrada de tuk-tuk, pede a protecção do comércio tradicional local e uma lei de rendas que beneficie os moradores, em detrimento da habitação temporária para turistas. Ainda assim, de acordo com o estudo, apenas 17% dos moradores do centro histórico da capital acredita que o turismo “tem prejudicado o ambiente na zona” onde residem. 16% defende que o turismo prejudicou aquilo que é a identidade de Lisboa e uma esmagadora maioria (91%) acredita que, “por influência do turismo, a cidade tem hoje mais vida”.

É cada vez mais acentuado o peso de Lisboa em relação aos outros destinos da região: em 2005, o turismo na cidade representava 65% do total da região de Lisboa, em 2015 cresceu para os 74%. O que levou Vítor Costa a reconhecer a necessidade de espalhar mais o fenómeno “pela região e pela cidade”, dando exemplos de “zonas com grande potencial”, como a Península de Setúbal, Serra da Arrábida, Mafra e Vila Franca de Xira. Dentro da cidade destacou os eixos entre Baixa e Belém e a Baixa e o Parque das Nações, a par da Avenida Almirante Reis e as avenidas entre Picoas e o Saldanha. 

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