Condecorações, filhos e mulher – todas as acusações contra Fillon

São cada vez mais os casos que podem enterrar definitivamente as aspirações do candidato a alcançar a presidência francesa.

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O alegado emprego "fictício" de Penelope Fillon pode ter condenado a candidatura presidencial do marido Reuters/Pascal Rossignol

De grande candidato à vitória nas presidenciais francesas, François Fillon passou em poucos dias a principal candidato a uma desistência antecipada, com o seu nome associado a uma série de casos.

“Penelopegate”

A mulher de François Fillon, Penelope, terá recebido perto de 900 mil euros durante os cerca de 15 anos em que foi assistente parlamentar do marido, quando este era deputado na Assembleia Nacional. O caso foi divulgado pelo semanário Le Canard Enchaîné, que diz não haver registos físicos do trabalho de Penelope como assistente. Fillon diz que a mulher foi sua assistente “desde sempre”, acompanhando-o e trabalhando nas campanhas eleitorais e já depois como deputado num regime pro bono, algo que diz ter mudado apenas a partir de 1997, quando foi formalmente integrada na sua equipa, após a saída de um colaborador. Porém, os dados divulgados pela imprensa francesa mostram que Penelope já recebia uma remuneração entre 1988 e 1990 e que continuou a assistir o deputado que substituiu Fillon entre 2002 e 2007, altura em que o marido foi ministro. O caso motivou, na semana passada, uma busca policial ao gabinete de Fillon na Assembleia Nacional.

Revista literária

Depois da carreira como assistente parlamentar, Penelope Fillon colaborou com a prestigiada Revue des Deux Mondes, cujo proprietário era Marc Landreit de Lacharrière, amigo pessoal de François Fillon. Durante 19 meses, entre 2012 e 2013, a mulher do ex-primeiro-ministro recebeu cem mil euros brutos por duas recensões literárias e pela sua participação numa “reflexão estratégica informal”, na qual exercia funções de “conselheira literária”, segundo Lacharrière. “Em momento algum tive qualquer ideia sobre o que poderia consistir o trabalho de conselheiro literário”, disse ao Canard Enchaîné o director da revista na altura, Michel Crépu. Em 2010, o proprietário da revista tinha recebido a grande-cruz da Legião de Honra sob proposta do primeiro-ministro da altura… François Fillon. De acordo com o Le Monde, a procuradoria-geral e o gabinete contra a corrupção estão a tentar verificar se existe uma relação entre a entrega da condecoração e o emprego dado a Penelope. O dono da Revue garante que o trabalho da mulher de Fillon "nada teve de fictício".

Os filhos

Na sua passagem pelo Senado, entre 2005 e 2007, Fillon empregou os dois filhos mais velhos como assessores “por causa das suas competências”. Na altura, nenhum tinha ainda terminado os estudos – ambos são hoje advogados – e a equipa de Fillon tentou justificar a “imprecisão de linguagem” quando o candidato disse que os contratou por serem advogados. Ainda sem título profissional, Marie e Charles auferiam salários brutos de 3800 e 4800 euros, segundo o Le Canard Enchaîné. Foi o próprio Fillon quem disse no interrogatório pela polícia na semana passada, que nessa altura a filha mais velha fez um “grande trabalho de arquivo” para a sua biografia política de 2006, La France peut supporter la vérité (A França consegue suportar a verdade).

Desvio de fundos no Senado

De acordo com o site de investigação Mediapart, Fillon terá beneficiado – embora não seja directamente responsável – de um esquema de desvio de fundos públicos no Senado pela União para um Movimento Popular (UMP, o partido que antecedeu o actual Os Republicanos), que está a ser investigada pelo  Ministério Público. Os senadores devem entregar ao seu grupo parlamentar os subsídios que não foram utilizados para pagar salários dos seus assistentes e colaboradores. No entanto, diz o site, a UMP devolveu um terço destes fundos remanescentes aos senadores, incluindo Fillon, que terá recebido cerca de 21 mil euros à custa deste esquema. 

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