Só Oeiras e Amadora assumem interesse em participar na gestão da Carris

Das cinco câmaras, além de Lisboa, onde a Carris opera, apenas duas admitem que gostariam de ter um papel efectivo na gestão dos transportes públicos rodoviários. Para Odivelas, a opção actual é mais satisfatória do que a concessão. Loures e Almada respondem sem responder.

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“A transferência está hoje consumada, está feita”, disse António Costa a 1 de Fevereiro LUSA/JOÃO RELVAS

A Carris não é só Lisboa. Também é Amadora, Almada, Odivelas, Oeiras e Loures, os cinco concelhos que são abrangidos pela rede das suas carreiras. Numa altura em que o Parlamento se prepara – por iniciativa do PCP, que apresentará propostas de alteração –, para apreciar o diploma que decretou a municipalização da gestão da empresa, o PÚBLICO perguntou aos cinco municípios se teriam interesse em “entrar” na Carris. Só Oeiras e Amadora, presididas por um independente e por uma socialista, admitiram a hipótese.

O “sim” de Paulo Vistas, eleito presidente da Câmara de Oeiras em 203, depois de ter assumido o mandato na sequência da prisão de Isaltino Morais, foi claro. “A Câmara Municipal de Oeiras está disponível para participar na gestão da Carris, se isso se traduzir numa melhoria significativa dos serviços prestados à população e numa melhor articulação com os restantes sistemas de transporte”, assume o autarca.

Para Carla Tavares, socialista e presidente da Câmara da Amadora, apesar de ser uma grande “mais-valia a entrega da gestão da Carris à Câmara de Lisboa”, por se manter a empresa na esfera pública, ao invés de ser privatizada, faz todo o sentido que a Amadora venha a ter “um papel efectivo na gestão conjunta dos serviços de transportes públicos rodoviários”.

Essa possibilidade, lembra a socialista, decorre da legislação em vigor e das regras comunitárias, de acordo com as quais “em 2018/2019 terão de ser lançados concursos públicos para os transportes públicos rodoviários, pelo que a Carris deverá fazer parte da solução a encontrar ao nível da Área Metropolitana de Lisboa e, em particular, no concelho da Amadora”.

Em Odivelas, onde tanto a Carris como o Metro operam, Hugo Martins (PS) mostra-se satisfeito com a solução encontrada pelo Governo, incluindo com o plano de investimentos apresentado, e com política tarifária proposta. “Lisboa não é uma ‘ilha’”, defende o autarca. “Muitos dos utentes da Carris também são munícipes dos concelhos limítrofes e por isso temos a garantia firme de que a Câmara Municipal de Lisboa nada fará de costas voltadas para os restantes municípios e que Odivelas será sempre ouvida nas decisões que, de futuro, serão tomadas e que tenham impacto no concelho”.

As respostas de Almada e Loures são mais vagas. “Trata-se de matéria demasiado importante em que a avaliação em curso e o interesse dos almadenses desaconselham respostas gerais, abstractas, descontextualizadas e a destempo em torno de ‘eventual’ cenário”, diz Joaquim Judas, presidente da Câmara de Almada (PCP), ao PÚBLICO.

Sobre a disponibilidade da autarquia de Loures para participar na gestão da Carris, Bernardino Soares (PCP), em declarações à SIC, na quinta-feira à noite, afirmou que “é matéria que não está em cima da mesa neste momento e qualquer proposta nesse sentido teria de ser avaliada no momento em que fosse avaliada e nas condições em que fosse apresentada”. Ainda assim, Bernardino Soares defendeu que os municípios afectados por decisões relacionadas com alterações da rede de transportes públicos devem ser envolvidos.

Esta sexta-feira, Pedro Santana Lopes referiu-se ao assunto da Carris na sua crónica semanal no Correio da Manhã, deixando conselhos e recados. “A oposição não deve desejar, nesta matéria, crises na maioria e os partidos que compõem a maioria não devem ser egoístas na defesa da posições próprias de cada força política”, escreveu Santana, ao jeito de quem aconselha prudência nas argumentações e nas acções políticas.

Santana, para quem os transportes públicos – como o Metro ou a Carris – devem ficar sob a alçada da Autoridade Metropolitana, numa gestão integrada, como “Madrid faz há 30 anos”, ainda avisa: “Não deve haver política nem voluntarismo pessoal em ano de eleições que secundarize a lógica do bom-senso necessário para a construção de um quadro que deve regular esta gestão para as próximas décadas”. Com todas as letras, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa chama a atenção para o facto de 2017 ser ano de eleições autárquicas e de os interesses dos utentes poderem não se compatibilizar com politiquices.

Faltam ainda 20 dias para o Parlamento debater e votar as apreciações parlamentares sobre a municipalização da Carris. Mas o primeiro-ministro decidiu e está decidido (e até apresentado publicamente em jeito de inauguração). “A transferência está hoje consumada, está feita”, disse António Costa a 1 de Fevereiro.

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