Autoridade Palestiniana exige pedido de desculpa a Guterres por declarações sobre Jerusalém

Secretário-geral da ONU afirmou que a origem do Monte do Templo em Jerusalém é judaica, o que enfureceu os palestinianos.

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Reuters/TIKSA NEGERI

As autoridades palestinianas exigem um pedido de desculpa a António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, devido aos seus comentários sobre a origem judaica do Monte do Templo em Jerusalém.

Também conhecido, pelos muçulmanos, como Nobre Santuário, este é um lugar sagrado para o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, sendo por isso um dos locais religiosos mais disputados do mundo, e alvo de enormes tensões. Aí encontra-se a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, a seguir a Meca e Medina. É comum ouvir também a designação de Esplanada das Mesquitas.

Guterres, no âmbito das comemorações do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, afirmou numa entrevista à Radio Israel, em Nova Iorque, que é “completamente claro que o templo que os romanos destruíram em Jerusalém era um templo judeu”. “Ninguém pode negar o facto de Jerusalém ser sagrada para três religiões actualmente”, acrescentou.

Antes, no dia 27 deste mês, e durante um discurso na sede da ONU, o secretário-geral afirmou que o “Império Romano não só destruiu o templo em Jerusalém, mas também fez os judeus párias em muitos sentidos”.

Guterres refere-se assim ao Templo de Salomão que, segundo a Bíblia hebraica, foi o primeiro templo de Jerusalém, tendo sido destruído pelos babilónios depois de um cerco à cidade, calcula-se que em 586 a.C. A mesquita islâmica de Al-Aqsa foi construído apenas no ano 705 d.C.

Apesar das referências históricas, as afirmações do antigo primeiro-ministro português irritaram as autoridades palestinianas. À agência de notícias chinesa Xinhua, o responsável da Autoridade Palestiniana pelos assuntos relacionados com Jerusalém, Adnan al-Husseini, diz que Guterres “ignorou a decisão da Unesco que considera a mesquita de Al-Aqsa de herança puramente islâmica”, acusando ainda o português de “violar todos os costumes humanitários legais, diplomáticos e ultrapassou o seu papel de secretário-geral”. Por isso, diz al-Husseini, Guterres “tem de apresentar um pedido de desculpas ao povo palestiniano”.

A decisão da Unesco referida pelo dirigente palestiniano é do passado mês de Outubro e provocou, inclusivamente, o corte de relações entre Israel e aquela organização da ONU. Em concreto, foi adoptada uma resolução que criticava a acção israelita em redor da mesquita de al-Aqsa e na “Jerusalém de Leste ocupada”. No texto, a Unesco refere-se sempre ao local com a denominação islâmica, o que enfureceu os israelitas.

A agência chinesa falou também com um conselheiro do líder palestiniano, Mahmoud Abbas, Ahmad Majdalani, que diz que as declarações de Guterres “minam a credibilidade da ONU como órgão que deveria apoiar os povos ocupados”. O secretário-geral deve também, defende Majdalani, “clarificar as suas observações que dá a Israel luz verde para mais medidas contra Jerusalém”.

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