Antiga secretária de Joseph Goebbels morreu aos 106 anos

Brunhilde Pomsel era uma das últimas pessoas que teve contacto estreito com a liderança do Terceiro Reich. Num documentário sobre a sua vida garante que não tinha conhecimento do extermínio judeu em curso.

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LUSA/MATTHIAS BALK

Brunhilde Pomsel, antiga secretária do ministro da propaganda do regime nazi, Joseph Goebbels, morreu aos 106 anos. Pomsel era uma das últimas pessoas que teve contacto estreito com o círculo de liderança do Terceiro Reich.

A notícia é avançada pelo realizador e produtor de uma documentário sobre a vida da antiga secretária de Goebbels, Florian Weigensamer, ao Guardian, acrescentando que Pomsel morreu na noite da passada sexta-feira durante o sono,

Brunhilde Pomsel trabalhou com Goebbels a partir de 1942 até ao dia 1 de Maio de 1945, altura em que o responsável pela propaganda nazi se suicidou juntamente com a mulher Magda e os seus seis filhos, quando o exército soviético entrava em Berlim e colocava um ponto final no domínio nazi na Europa.

Uma das últimas pessoas vivas que testemunhou os últimos dias da vida de Adolf Hitler, enquanto este permanecia escondido num bunker de Berlim, contou, no documentário A German Life, que “a única coisa que se pode dizer sobre Goebbels é que era um actor extraordinário. Ninguém melhor do que ele poderia personificar a transformação de um indivíduo civilizado e sério noutro conflituoso e delirante”.

“As pessoas que hoje dizem que teriam feito mais por aqueles pobres judeus perseguidos… Acredito que sejam sinceras ao dizê-lo, mas também elas não teriam feito nada”, justifica na mesma produção, mas não esconde a sua permissividade num período onde, calcula-se, seis milhões de judeus foram mortos: “Não sou do tipo de pessoa que resiste. Sou uma dos cobardes.” 

Apesar de tudo, Pomsel garante que não sabia do extermínio dos judeus que se realizava durante os anos em que trabalhou no seio do regime de Hitler: “Nunca ninguém acredita em nós. Todos acham que sabíamos tudo. Nós não sabíamos de nada. Tudo foi mantido em segredo – e resultou.”

Pomsel começou a trabalhar para o regime como secretária no departamento de notícias da rádio do Reich em 1933, ano em que o Partido Nazi subiu ao poder na Alemanha, e só nove anos mais tarde foi transferida para o escritório de Goebbels. Chegara à rádio depois de trabalhar para um nazi que estava a escrever as suas memórias, isto quando era ainda funcionária de Hugo Goldberg, um advogado e agente de seguros judeu.

“Não trabalhei com Goebbels, trabalhei para ele”, reforça. Tudo o que fazia no seu escritório era escrever à máquina, diz, embora admita mais à frente que, a dada altura, tinha por tarefa “maquilhar” os números das baixas nas tropas do Eixo e exagerar os que diziam respeito às mulheres alemãs violadas pelo Exército russo. “Tornei-me algo frívola e superficial”, acrescenta, reconhecendo que gostava do ambiente sofisticado do ministério e que sempre achou que o governante e a sua mulher, Magda, de quem chegou a receber um fato de presente, eram muito gentis.

Brunhilde diz sem preocupações que aplaudiu Hitler em Janeiro de 1933, quando chegou ao poder, que a Alemanha o via como um “homem novo” capaz de a resgatar e que a Berlim de 1936 era uma cidade vibrante, cosmopolita, à espera dos Jogos Olímpicos. “Houve uma grande mudança, mas nós não a víamos como tal”, admite, para reconhecer mais à frente que a inércia generalizada se devia, em parte, à percepção de que resistir teria consequências catastróficas: “O idealismo da juventude poderia facilmente levar-nos por um caminho em que podíamos acabar com o pescoço partido.”

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