Autárquicas: abstenção

Os cidadãos não se revêem na forma de fazer política no dia-a-dia e têm a percepção que a política é impotente para resolver os seus problemas e mudar as suas vidas.

Donald Trump é Presidente dos E.U.A. , apesar de ter tido menos dois milhões de votos do que Hillary Clinton. A democracia tem destas coisas inexplicáveis. Na forma como tudo se processa nem sempre vence quem tem mais votos.

Por outro lado, a democracia representativa luta com outro problema que parece sem solução: a indiferença, desilusão, apatia, afastamento e desinteresse. E, diria até de muitos o desdém com que se olha para a democracia.

A consequência é uma abstenção enorme.

A nossa democracia tem por expoente máximo os partidos que ignoram a abstenção e os dados de cada eleição, quer seja nacional quer seja local. Todos nós conhecemos esse mal democrático, mas quem de direito - os políticos são quem têm a responsabilidade nesta matéria - Nada faz ou pouco faz para diminuir a abstenção.

Se não o fazem é porque verdadeiramente não se importam. Nada acontece e o sistema funciona na mesma.

Estas eleições autárquicas que, em princípio se realizam em Setembro de 2017, estão abertas a independentes, mas há todo o tipo de entraves e dificuldades: reunir as assinaturas necessárias para ser candidato; conseguir financiamento; pagar uma taxa de IVA de 23%; ter um número romano no boletim de voto, em vez de um símbolo; etc..

No fundo dá-se com uma mão e tira-se com a outra. Os partidos  dizem, " meu caro pode concorrer mas tem que cumprir estes requisitos". Os requisitos são um entrave enorme. Pode dizer-se que o aval é: "um sim, mas".

Há muitas causas para a abstenção, mas uma delas, para quem vota, é não se rever em nenhum candidato. Porventura, se houvesse mais candidatos independentes emanados da sociedade civil, seria diferente.

Os cidadãos não se revêem na forma de fazer política no dia-a-dia e têm a percepção que a política é impotente para resolver os seus problemas e mudar as suas vidas. A consequência é a volatilização do voto e, pura e simplesmente os eleitores não irem votar.

Os partidos continuam com larga vantagem numa eleição local. A lei eleitoral não estabelece um mínimo de votantes, para alguém ser eleito. Há a questão da legitimidade, mas ninguém liga nada a isso. A situação crónica de mais de 50% do eleitorado não votar é uma anomalia no sistema político português.

Era importante o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, alertar para a abstenção e a ponderação de escolha de candidatos às autárquicas com perfil e credibilidade. Chega-se ao ponto de gastar imenso dinheiro em apelar ao voto e o resultado parece ser o contrário.

Actualmente fala-se mais de lugares do que em resolver os problemas em cada localidade. Para uma eleição autárquica não se deveria começar por se fazer uma lista de lugares, mas uma lista de prioridades e de projectos na resolução de problemas das populações.

É muito importante numa eleição ir-se votar por convicção e não por obrigação moral. Muitos portugueses votam por consciência democrática, não porque apreciem muito em quem vão votar. Nem foram ouvidos nem achados na escolha dos candidatos. Essa escolha foi feita entre paredes pelo partido e muitas vezes contra a maioria dos seus militantes.

Os portugueses preocupam-se, falam, debatem e participam se têm a percepção da mudança. De outro modo, nem se dão ao trabalho de ir votar. Essa atitude não é falta de cumprimento de um dever cívico, mas revela que não concordam com tudo isto.

Porém, parece que os partidos instituídos fazem de conta. Uma das formas da democracia evoluir seria os cidadãos poderem participar na vida politica, para além dos partidos, mas em igualdade de circunstâncias que os candidatos dos partidos.

 

 

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