Carlos Slim oferece-se para ajudar Governo mexicano a negociar com Trump

É um dos homens mais ricos do mundo, com negócios nos dois lados da fronteira. Numa rara conferência de imprena, pediu aos mexicanos unidade política e apoio para Peña Nieto.

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Carlos Slim Reuters/EDGARD GARRIDO

Três dias antes da tomada de posse de Donald Trump (a 20 de Janeiro), o jornal El Universal publicou uma sondagem sobre o que esperavam os mexicanos do novo Presidente dos EUA — 79% disseram que as relações bilaterais iriam “piorar muito”. E quem seria a melhor figura para enfrentar os tempos difíceis com o poderoso vizinho do Norte? Carlos Slim, respondeu a maioria.

O magnata da comunicação e de tudo — tem negócios em muitas áreas, da educação à finança, é o terceiro mais rico do mundo, diz a lista da Forbes — é o mais bem posicionado para fazer o que é preciso neste momento de grande vulnerabilidade para o México: negociar duro. Não o Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, concluía a sondagem.

Esta sexta-feira, numa rara conferência de imprensa, Slim disse que Trump é “um grande negociador, e não um exterminador”, e ofereceu-se para ajudar o Governo a enfrentar o Presidente dos EUA. Mais, pediu a todos os políticos para se unirem em apoio a Peña Nieto.

Na quinta-feira, o Presidente mexicano cancelou uma visita a Washington, depois de Trump ter anunciado a construção de um muro para travar o crime, o narcotráfico e a imigração provenientes do México e de ter repetido que serão os mexicanos a pagá-lo. A oposição — que promovera durante semanas consecutivas manifestações contra Peña Nieto, que está a ano e meio de terminar o seu mandato — aplaudiu e apelou à unidade neste período de ameaça. As relações bilaterais tremeram.

Mas, ontem, Trump e Nieto falaram ao telefone durante uma hora. Muito pouco foi revelado sobre a conversa. Os dois presidentes acordaram em não falar publicamente sobre o muro e conversaram sobre o fortalecimento das relações bilaterais, sobre o défice comercial dos EUA com o México, sobre o necessário combate ao tráfico de drogas e armas.

O americano, porém, disse que a conversa foi “muito boa” e está “desejoso” por negociar . Mas: “Tenho sido muito duro com o México. Respeito muito o México... mas, como sabem, o México tem negociado com os EUA e tem levado a melhor nos mandatos das nossas anteriores lideranças. Fizeram de nós parvos”, disse. Pouco antes, foi mais longe: chamou ao México um sorvedouro dos postos de trabalho dos americanos e um empecilho ao desenvolvimento da economia americana.

Ou seja, não retirou uma linha à declaração de guerra que fizera ao México — com palavras, com decretos e com a renegociação forçada do Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA).

A conferência de Carlos Slim foi após a conversa dos dois presidentes e das declarações de Trump. Disse que Peña Nieto tem de negociar a partir de uma “posição de força” e fez uma análise do que enfrenta — balança comercial, imigrantes (a prioridade, disse), muro. Fez um resumo do que deve ser a actuação do seu Presidente perante o líder americano que, considerou, é um produto de um novo paradigma civilizacional. Também pediu aos conselheiros de Trump, “que são inteligentes”, que lhe digam que a sua visão “de regresso ao passado glorioso da indústria americana não funciona”.

“Há que entender as circunstâncias que estamos a viver e estratégias que temos de adoptar”, disse Slim, insistindo que o Governo mexicano tem de apostar no desenvolvimento da economia doméstica.

Os mexicanos queriam Carlos Slim a enfrentar Trump e ele fez-lhes a vontade. Houve quem dissesse que o magnata, cujos negócios escorrem pelos dois lados da fronteira, está a dar os primeiros passos para uma vida política — como fez Trump. Preferiu pedir unidade nacional e apoio para o Governo e oferecer ajuda. Tem uma mais-valia: em Dezembro, fez as pazes com Trump, depois de meses a digladiarem-se; Slim é o maior accionista do The New York Times, o jornal que revelou o escândalo ”grab them by the pussy”. Juntaram-se na mansão de Trump na Florida e tiveram um “belo jantar”.     

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