Alterações climáticas causaram prejuízos a Portugal de 6,8 mil milhões de euros em três décadas

Associação ambientalista Zero alerta para o mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente.

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Cheias em Albufeira em Novembro de 2015 Filipe Farinha/stills

Os custos das alterações climáticas em Portugal entre 1980 e 2013 ascendem a 6,8 mil milhões, alerta a associação ambientalista Zero, que se baseia num relatório da Agência Europeia do Ambiente divulgado nesta quarta-feira.

A agência contabilizou os prejuízos resultantes para cada país de fenómenos meteorológicos extremos, como cheias e tempestades, mas também incêndios de grandes dimensões.

"O resultado mais surpreendente prende-se com a análise de custos efectuada. As consequências das alterações em Portugal entre 1980 e 2013 atingiram já 6,8 mil milhões de euros, dos quais apenas 300 milhões (cerca de 4% do total) se encontravam cobertos por seguros", diz a Zero em comunicado. O que representa um custo de 665 euros per capita  e de 73,5 milhões de euros por quilómetro quadrado, o equivalente a 0,14% do Produto Interno Bruto do país, nos cálculos apresentados no relatório. 

O dirigente da Zero Francisco Ferreira sublinha o facto de Portugal estar no fundo da tabela no que à taxa de cobertura destes prejuízos pelas seguradoras diz respeito. Em Espanha essa taxa é do triplo, 12%, mas na França e na Alemanha oscila entre os 44% e os 48%. “Pode ser por as pessoas não terem seguros para estes fenómenos”, avança o ambientalista, sublinhando que as conclusões da Agência Europeia do Ambiente vêm confirmar que o sul da Europa está particularmente vulnerável às ameaças decorrentes das alterações climáticas. “O sudeste e o sul da Europa são projectados como zonas hotspots, com o maior número de sectores e domínios a serem gravemente afectados. Áreas costeiras e planícies de inundação na parte ocidental da Europa são também hotspots multissectoriais. Os Alpes e a Península Ibérica são pontos críticos para os ecossistemas”, assinala a Zero, explicando que os custos dos danos associados às alterações climáticas são mais elevados precisamente no sul da Europa.

O relatório menciona por exemplo o surto de dengue na Madeira, em 2013, como uma consequência das alterações climáticas: a doença transmitida pelo mosquito é mais frequente em climas tropicais, mas tem chegado a outras latitudes à medida que a sua temperatura aumenta.

A Zero pede maior rapidez na mitigação dos efeitos ambientais das alterações climáticas e na adaptação do país às transformações daí decorrentes: “À escala nacional, é muito importante o avanço do Roteiro Nacional de Carbono Neutro para 2050 a desenvolver este ano e o passar à prática com a aplicação generalizada de iniciativas locais e nacionais no âmbito da estratégia nacional de adaptação às alterações climáticas." Iniciativas que passam, por exemplo, por não permitir construção em zonas de cheia e pela criação de planos de contingência por parte das autarquias.

A Quercus alerta por seu turno para o aumento da pressão sobre as áreas protegidas devido às alterações climáticas, quando estas zonas já são afetadas pelos investimentos agrícolas, turísticos e imobiliários.

"As áreas protegidas já estão sujeitas a muita pressão, nomeadamente a alteração do uso, a utilização para fins agrícolas, por exemplo, no litoral alentejano, com estufas, e para fins turísticos, imobiliários e para construção de parques eólicos", observa o presidente da Quercus, João Branco. Estes investimentos "foram feitos no pressuposto que as áreas protegidas iriam aguentar a pressão", mas com as alterações climáticas "isso fica em risco". O aumentos de situações extremas de calor, e a redução da precipitação e dos caudais dos rios aumentam o risco de secas severas, perdas na agricultura e na biodiversidade, assim como o risco de fogos florestais.

João Branco destaca a chamada de atenção da Agência Europeia do Ambiente para os efeitos perniciosos das alterações nas áreas protegidas mas também na saúde. A Quercus mostra-se ainda apreensiva com "o enfoque que a Agência Europeia do Ambiente dá às questões da adaptação, porque esse caminho é perigoso, e pode dar aos cidadãos a ilusão de que é possível" encontrar formas de integrar as mudanças do clima na organização actual da sociedade.

O que está no Acordo de Paris relativamente às alterações climáticas, "e de que toda a gente se está a esquecer", salienta o ambientalista, é a necessidade de começar a captar dióxido de carbono da atmosfera."Já não basta diminuir as emissões, é insuficiente, é preciso tirar o carbono da atmosfera e a única maneira conhecida de fazer isso é plantando florestas", defende.

O Acordo de Paris foi obtido em Dezembro de 2015, reunindo mais de 190 países, e entrou em rigor em Novembro de 2016 com o objectivo de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e de limitar a subida da temperatura do planeta. com Lusa

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