Mais de 60% das cirurgias já são feitas em ambulatório

Maior parte das operações já não implicam internamento dos doentes. Entre Janeiro de Novembro de 2016, houve mais cirurgias, mais consultas mas também mais urgências.

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Em 2006, cirurgias em ambulatório representavam apenas um quarto do total de operações Paulo Pimenta

Numa década, a percentagem de cirurgias efectuadas em ambulatório (por norma sem necessidade de pernoita no hospital) mais do que duplicou em Portugal. Entre Janeiro e Novembro de 2016, mais de 60% das programadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) já foram realizadas desta forma, anunciou nesta terça-feira a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

Este tipo de operações que não costuma implicar internamento do doente (habitualmente a alta é dada até às 12 horas, apesar de a permanência no hospital poder prolongar-se até às 24 horas) representava em 2006 pouco mais de um quarto do total das cirurgias programadas (27,2%).

A meta de 60% da cirurgia de ambulatório no total das intervenções cirúrgicas programadas estava traçada no Orçamento do Estado de 2016. “É uma alteração estrutural que tem vindo a ser induzida no sistema. Portugal tem feito este caminho, que tem impacto no acesso, através da redução das listas de espera”, explica Ricardo Mestre, vogal do conselho directivo da ACSS, que lembra ainda que este tipo de operações “ajudam o doente a ter um processo de recuperação mais rápido e mais cómodo” (em casa). São sobretudo operações às cataratas e às varizes, mas a ACSS está “a trabalhar” noutro conjunto de procedimentos que podem também ser efectuados desta forma, acrescentou.

Aumento da actividade hospitalar

A ultrapassagem da fasquia dos 60% merece destaque num comunicado esta terça-feira divulgado pela ACSS, que dá ainda conta do “aumento da actividade hospitalar nas principais linhas assistenciais” em 2016. Publicados pela ACSS no microsite de monitorização do SNS , os dados indicam que, entre Janeiro e Novembro, foram feitas 624.434 intervenções cirúrgicas nas entidades do SNS, mais 12.240 do que no mesmo período do ano anterior. 

O aumento ficou a dever-se ao crescimento das operações em ambulatório (mais 5,5%), até porque tanto as cirurgias convencionais como as urgentes diminuíram neste período. O número veio colocar “Portugal, pela primeira vez, com um valor superior a 60%” no total de cirurgias deste tipo, realça a ACSS, que nota ainda que o número de consultas médicas também cresceu ligeiramente (0,8%).

Pela negativa, da leitura dos dados que constam no microsite da ACSS percebe-se que o número de episódios de urgência continuou a aumentar, ao contrário do que pretendia o ministro da Saúde, que no início do ano chegou a prever uma diminuição da procura destes serviços. Entre Janeiro e Novembro, foram ultrapassados os 5,8 milhões de episódios de urgência, um crescimento de 4,1% (mais 231 mil) face ao mesmo período de 2015. O problema é que mais de 40% dos doentes foram triados como não urgentes ou pouco urgentes.

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