Desenho

“Levei uma tampa e trouxe um sorriso”

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O que parece um pedaço de lixo para muitos é uma oportunidade de criar arte para Sílvia Franco Santos. Foi por acaso que a designer e formadora de desenho, 29 anos, começou a transformar o interior de tampas metálicas em retratos personalizados. “A ideia surgiu enquanto dava aulas de Desenho. Sempre usei as tampas dos frascos como recipientes para misturar as tintas, principalmente para quantidades menores de tinta-da-china, e quando esta secava reparei que ficavam manchas nas tampas”, conta ao P3. Vai daí, lembrou-se de “experimentar raspar a primeira tampa”, uma forma rudimentar e simplificada da técnica de scratchboard que rapidamente “se tornou um vício”. O processo de criação é semelhante a todas as tampas, apenas muda o desenho. Preparar a tinta e colocar a tampa a secar durante uma semana é o primeiro passo. Depois, são necessárias entre três a cinco horas para raspar e terminar o desenho antes do toque final: envernizar. A primeira experiência de Sílvia foi um auto-retrato, mas hoje já soma cerca de 100 tampas com pinturas diferentes. As imagens são variadas e centradas em interesses pessoais. No início, a maioria das tampas debruçaram-se mais sobre “as mulheres e o lado mundano e espiritual de tentar representá-las em situações extremas”, sejam momentos de muita alegria e emoção até uma tristeza profunda: “Para mim, as tampinhas transformaram-se em objectos de culto que relatam momentos de transformação espiritual e registam imagens que habitam a minha consciência”. O retrato da avó foi o primeiro de uma série de retratos personalizados que a ilustradora natural de Lisboa fez em homenagem a todas as mulheres. Hoje, todo o tipo de tampas metálicas de diferentes tamanhos e formas podem ser adquiridas por 25 e 35 euros na loja online do projecto. Certo é que, um ano depois, “Levei uma tampa e trouxe um sorriso” conseguiu com a ajuda de amigos reunir mais de 300 tampas à espera de ganhar uma segunda vida. Já o objectivo inicial mantém-se: “O que pretendo é reciclar e aproveitar este material para lhe dar um fim mais nobre, ao mesmo tempo que procuro sensibilizar as pessoas para a arte e para a importância de dar um novo uso ao que poderia ir para o lixo”.