Aptoide cresce no Brasil e quadruplica facturação

Loja de aplicações portuguesa teve receitas acima dos quatro milhões de dólares. Está a preparar-se para uma nova ronda de investimento.

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Nos escritórios da Aptoide, em Lisboa, trabalham 70 pessoas MIGUEL MANSO

Para a Aptoide, o caminho para o Brasil e para a Índia passa por pagar a canais populares do YouTube. Nos escritórios da empresa, em Lisboa, um dos 70 funcionários mostra no computador uma profusão de círculos, unidos por traços verdes. Cada círculo é um canal no YouTube, os traços mostram as ligações entre utilizadores, e quanto maior for o círculo, mais influente é o canal. Tal como outras marcas, a Aptoide, uma loja de aplicações para Android, usa este tipo de ferramenta para identificar os utilizadores mais influentes e paga-lhes por curtos vídeos promocionais. É uma das estratégias que lhe permitiram quadruplicar as receitas no ano passado e crescer a três dígitos em mercados como o brasileiro e o indiano.

A Aptoide é uma alternativa à loja Google Play (que vem pré-instalada na maioria dos telemóveis com Android). Está longe de ser a única. A Amazon e a Samsung, por exemplo, têm as respectivas lojas e há uma miríade de outras, muitas das quais com mecanismos próprios e com uma implantação forte em algumas regiões do globo. Na Aptoide, para além de descarregarem aplicações, os utilizadores podem criar as suas próprias lojas, com aplicações seleccionadas a partir da loja principal. Também podem seguir-se uns aos outros. É uma lógica semelhante à das redes sociais e permite descobrir aquilo que os outros estão a instalar (a maioria dos utilizadores, porém, continua a instalar aplicações na sequência de uma pesquisa específica).

A empresa faz dinheiro com as aplicações que pagam (através de redes de intermediários) para aparecerem em lugar de destaque. De cada vez que alguém instala uma destas aplicações destacadas, a Aptoide recebe dinheiro, em valores que tipicamente oscilam entre os 50 cêntimos de dólar e um dólar. Em 2016, diz o co-fundador Paulo Trezentos, a empresa facturou “mais de quatro milhões de dólares”. As receitas tinham sido de 1,1 milhões de dólares em 2015.

Actualmente, segundo números dados por Paulo Trezentos, a loja tem 142 milhões de utilizadores únicos com pelo menos uma instalação feita. A presença no Brasil explodiu no ano passado, quando o número de utilizadores quase triplicou para 16 milhões, pondo este país no topo da lista dos mercados da Aptoide (em segundo lugar está o México e em terceiro, os EUA). Na Índia, o quinto país da tabela, o uso da Aptoide aumentou 150%, embora o número de utilizadores se fique por uns mais modestos 1,5 milhões. Pelo contrário, nos mercados mais maduros, como é o caso dos europeus, a tendência é de estabilização. E em alguns mercados grandes, como a Rússia e a China, a empresa portuguesa sente dificuldades em encontrar espaço.

Parte da popularidade da Aptoide deve-se às estratégias agressivas de crescimento, como a de comprar vídeos no YouTube. Outra parte deve-se à queixa que apresentou junto da Comissão Europeia contra o Google e que atraiu atenção mediática. A empresa portuguesa acusou a multinacional de práticas anticoncorrenciais, ao dificultar a instalação de lojas que não fossem a do próprio Google. Por seu lado, o Google tem argumentado que qualquer utilizador pode instalar o que quiser no Android (embora o processo seja mais complicado quando essa instalação não é feita a partir do Google Play). Também já disse que as aplicações descarregadas a partir da Aptoide podem trazer problemas de privacidade e segurança. “É uma atitude paternalista”, queixa-se Paulo Trezentos. “Não deve haver uma empresa a determinar o que é seguro, o que é ético. O Google diz que o software é inseguro porque não é do Google. É uma premissa de segurança pelo menos duvidosa.”

Com a facturação a crescer, e depois de ter angariado 3,7 milhões de euros numa ronda de investimento há um ano, a empresa começa a preparar-se para obter mais capital. “Temos sentido algum interesse de alguns investidores. Em 2017 começaremos a trabalhar numa série B [uma nova ronda de financiamento], entre o segundo e o terceiro trimestre”, adianta Paulo Trezentos. Quanto a planos de saída – uma venda a outra empresa, por exemplo, que permitiria aos investidores rentabilizar o dinheiro investido – o co-fundador assegura que não é um caminho já esteja estudado. “Não temos ideias concretas. Passo a passo analisaremos. Não trabalhamos muito nisso.”

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