"Brexit", nextit

A propaganda anti-alemã dos brexiteiros é cada vez mais descarada e embaraçosa.

No mais recente Spectator Michael Gove parece estar a atiçar Espanha, Itália e Portugal a juntar-se aos brexiteiros. Mas o que é que se passa?

O Reino Unido nunca deixou de estar em guerra com a Alemanha. Basta ver televisão: a Segunda Guerra (ou a Primeira ou, de preferência, ambas) está sempre a dar. Mesmo a vitória dos futebolistas ingleses em 1966 – sobre os alemães – nunca anda muito longe.

O "Brexit" também foi o reconhecimento que o Reino Unido tinha perdido a guerra económica e política contra a Alemanha. Dentro da União Europeia a derrota era tão clara para os ingleses como era indesejada para os alemães.

Agora que o Reino Unido decidiu saír mesmo da União Europeia a propaganda anti-alemã dos brexiteiros é cada vez mais descarada e embaraçosa. Gove dirige-se aos portugueses, espanhóis e italianos como oferecendo uma alternativa ao domínio alemão: o domínio inglês ou, usando a palavra errada com que gosta de apresentar-se, britânico.

O que tem piada é a maneira como o Reino Unido continua a achar que pode influenciar a Europa e o mundo. Eu sou meio-inglês, adoro os ingleses e não vivo sem saber o que pensam e o que fazem. Mas a grande maioria dos europeus interessa-se tanto pela baixa política inglesa como pelas particularidades da Igreja Anglicana.

É estranho – e deprimente – ver a Inglaterra a tentar refrescar, em 2017, os lugares-comuns que pensávamos ter caído em desuso com a morte do império britânico, à mistura com um nacionalismo zangado, rancoroso, mesquinho – e pouco inglês.

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