“Eu estava mostrando um outro tipo de sonoridade que o Brasil nunca conheceu”

Alceu Valença revê, numa só noite, os seus três ousados primeiros trabalhos a solo. Este sábado em Lisboa, no Tivoli BBVA, e terça-feira dia 24 no Porto, na Casa da Música. Sempre às 21h30.

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Alceu Valença em Vivo! Revivo! ANTONIO MELCOP
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Alceu no espectáculo Valencianas, com a Orquestra de Ouro Preto NATY TORRES

Em Janeiro de 2015 ele entusiasmou as plateias portuguesas da Casa da Música e do Tivoli com o espectáculo Valencianas, na companhia da Orquestra Ouro Preto, de Minas Gerais. Passados dois anos, Alceu Valença volta àquelas mesmas salas para apresentar um projecto bem diferente e que retoma a génese na sua carreira. Vivo! Revivo!, assim se chama o espectáculo, baseia-se nos seus três primeiros discos solo: Molhado de Suor, 1974; Vivo, 1976; e Espelho Cristalino, 1977. E foi neles que Alceu, cantor e compositor pernambucano, hoje com 70 anos, começou a firmar o som que lhe deu notoriedade. Desta vez, o espectáculo será apresentado primeiro em Lisboa, no Tivoli BBVA, este sábado às 21h30, e depois no Porto, dia 24, à mesma hora, na Casa da Música.

Recriar o tom dos anos 1970

Apesar de se basear nesses três discos, o espectáculo terá também outras canções, como diz ao PÚBLICO Alceu Valença: “No final eu canto vários temas que foram sucessos na minha carreira, como Anunciação ou Morena Tropicana, embora este show tenha como base esses três discos, como fiz no Rio de Janeiro na década de 70. Agora vamos ter os mesmos arranjos, o mesmo tom, até o paletó que eu uso é o mesmo que usei, estava na casa da minha mãe e a minha irmã guardou isso para mim!” No Brasil, Alceu já apresentou este espectáculo em várias cidades. No Recife, inclusive, os espectadores foram assistir vestidos com roupa da época. Pode parecer um acto revivalista, mas vai para além disso. “Com esses discos, eu estava mostrando um outro tipo de sonoridade que o Brasil nunca conheceu e que não tem nada a ver com nada. Não tem nada a ver com a geração do Chico, do Caetano, do Gil, com a minha geração; é outra coisa! O meu caminho é o meu caminho. Pode ser cheio de espinhos, ou de flores, mas é o meu caminho.” Por curiosidade, diga-se que Alceu começou há já alguns anos uma série de gravações a que deu o título de “Cantando no Banheiro”, onde regravou várias das suas canções em várias casas de banho (de casas, de hotéis) por causa da acústica. Oiça-se, por exemplo, Coração bobo

“Rock que não é rock”

Dos músicos que estiveram com ele nesse período, tem consigo de novo em palco o guitarrista Paulo Rafael, que curiosamente tem no Youtube um vídeo a mostrar (precisamente a partir da experiência com Alceu) como se passa do embalo da música nordestina ao rock. “Essa foi a minha marca”, diz Alceu Valença. “As novenas das bandas do pífano, os aboios, essas coisas todas que eu vou colocando, andam a par com os solos de guitarra rock’n’roll dele.” Com Alceu Valença (voz), vão estar em palco, além de Paulo Rafael (guitarras), Cássio Cunha (bateria), Fernando Barreto (baixo), Leonardo (viola) e César Michiles (flauta). O espectáculo que só agora chegou a Portugal serviu de base, no Brasil, à gravação de um DVD, ainda inédito nas lojas portuguesas.

Que som é este? É um “rock que não é rock” (como lhe chamou um crítico do New York Times). Cruza os ritmos do nordeste com sons e instrumentos mais urbanos. A mistura, nele existente, de rock com pífanos, levou o grande Luiz Gonzaga a dizer que Alceu Valença tocava “uma banda pifeléctrica”. Isso significa que, na música de Alceu há, segundo o próprio, um pouco de tudo: “Xote, baião, frevo, maracatu, samba meio bossa, toadas, blues, tudo o que se pode imaginar.” Como ele diz, é um tipo de sonoridade que, não tendo “a ver com nada”, tem a ver com tudo. E ao longo dos anos tem, até pela sua originalidade, sido aplaudida pelos quatro cantos do mundo.

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