Antigo presidente da Gâmbia saiu depois de tentar tudo para se manter no poder

Informação é do Presidente eleito e reconhecido pela comunidade internacional. Foram precisos dois ultimatos, tropas estrangeiras no país e militares a dizerem que não o protegerão para Yahya Jammeh sair.

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Tomada de posse de Adama Barrow, o Presidente reconhecido pela comunidade internacional Reuters
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Yahya Jammeh, que foi presidente da Gâmbia durante os últimos 22 anos acabou por ceder o poder, mas apenas depois de vários ultimatos e de ver todos a abandoná-lo, desde os seus vizinhos africanos até aos seus ministros e Exército.

A notícia foi avançada no Twitter pelo Presidente Adama Barrow, que em Dezembro vencera as eleições e que tomou posse na quinta-feira na embaixada do país em Dacar.

Foi o fim de um dia em que Jammeh continuou a tentar tudo por tudo para se manter no poder ou adiar a sua saída - nem que fosse por umas míseras horas. 

Foram feitos dois ultimatos, passaram dois ultimatos, e Jammeh não parecia demovido. Ao final da tarde, os responsáveis que negociavam na residência oficial do Presidente, o Presidente da Guiné-Conakry, Alpha Condé, e o seu homólogo da Mauritânia, Mohamed Ould Abdel Aziz, saíam do local. Não era claro se Jammeh ia também na coluna de veículos.

Antes, tinha tentado que lhe fosse permitido deslocar-se a uma propriedade que tem no interior do país. Os outros países africanos temem que por ter lá um bunker e dinheiro, Jammeh planeasse lançar uma insurreição contra o Presidente legítimo a partir da sua quinta. Recusaram. Foi-lhe oferecida a hipótese de sair para a Guiné-Conakry e daí escolher um país para viver.

A CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) tinha feito atravessar uma força de 7000 homens para a Gâmbia, mas esperava avanços da diplomacia. Se não houvesse frutos, os militares forçariam Jammeh a sair do país. 

“Está fora de questão que se mantenha no cargo”, sublinhou o responsável da CEDEAO, Marcel de Souza, acrescentando que na sua entrada na Gâmbia as tropas da força africana não encontraram resistência. 

Segundo testemunhos citados pelo diário britânico The Guardian, durante a tarde de sexta-feira apenas dois polícias estavam à porta da televisão pública na capital, sinal de que o regime não estava sólido.

Os chefes militares, que foram proferindo declarações contraditórias sobre quem apoiavam, parecem ter mudado definitivamente para o lado de Barrow.

O chefe do Estado-Maior do Exército, Ousman Badjie, que foi tendo várias opiniões contraditórias no último mês, celebrou com apoiantes de Barrow a tomada de posse de quinta-feira, diz o Guardian, e, segundo a Reuters, mudou para o lado do Presidente legítimo e anunciou que as suas forças não vão lutar a favor de Jammeh. Pouco depois, o novo Presidente twitava o afastamento do seu antecessor.

No seu discurso, Barrow pediu aos militares para não defenderem Jammeh e disse que quem o fizer será considerado um rebelde. Mas prometeu que nenhum será “objecto de qualquer injustiça” e disse ainda que melhoraria as condições de trabalho dos militares.

Na véspera, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU pedia a transmissão do poder mas não sancionava explicitamente uma intervenção militar.

Errático

O comportamento de Jammeh esteve cada vez mais errático à medida que a pressão aumentava. Depois de perder vários aliados do seu Governo, que se demitiram na sequência da crise, foi ele próprio que demitiu a metade do Governo que restava e disse que assumia todas as pastas do executivo.

A capital estava deserta, depois de na véspera a calma expectante ter sido interrompida por celebrações após a tomada de posse de Adama Barrow.

No seu discurso, Barrow congratulou-se com o resultado das eleições que lhe deram a vitória. “Este é um dia que nenhum gambiano vai esquecer”, declarou. “Esta é a primeira vez desde que a Gâmbia se tornou independente em 1965 que mudou o Governo através do voto”.

Quando estas palavras soaram em Dacar, muitos na Gâmbia saíram a comemorar. Jammeh é acusado de restringir liberdades e há denúncias de detenção de apoiantes de Barrow nas últimas semanas.

A ONU alerta para o grande número de pessoas a sair do país com medo da instabilidade política e da violência. O ACNUR (Alto-Comissariado da ONU para Refugiados) estima que tenham saído 45 mil pessoas através da única fronteira terrestre do país, com o Senegal. “Os próximos dias vão ser decisivos”, disse a organização, “e ainda mais pessoas podem sair se a situação não tiver uma solução pacífica em breve”. 

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