João Hasselberg e Pedro Branco dançando no escuro

Entre o jazz e a folk, João Hasselberg e Pedro Branco aventuram-se no desconhecido, por mares pouco navegados, com toda a tranquilidade do mundo.

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João Hasselberg & Pedro Branco: música, especialíssima, emotiva e aveludada

O contrabaixista João Hasselberg já se tinha revelado um compositor originalíssimo com os seus dois primeiros discos. Agora junta-se a Pedro Branco, jovem guitarrista em processo de afirmação, para desenvolver um conjunto de temas originais, que atravessam géneros, marcados por um forte sentido da melodia.

Além da assinalável qualidade das composições, o segredo deste disco passa ainda pelo meticuloso trabalho de arranjos. Os convidados foram escolhidos a dedo e cada músico intervém cirurgicamente.

A guitarra de Afonso Pais e a bateria de João Lencastre estão em destaque, mas também o piano de João Paulo Esteves da Silva e as vozes de Elina Silova e Afonso Cabral (dos You Can’t Win Charlie Brown) são fundamentais para construir um ambiente musical que é rico e distinto. O disco esquiva-se a rótulos, sendo difícil de caracterizar — sucedem-se os temas num balanço entre a folk pastoral e um jazz etéreo, num universo musical pessoal. Num álbum de interpretação rigorosa e disciplinada a composição é quem mais ordena e o espaço para o improviso é tímido. Branco e Hasselberg mostram-se tecnicamente exemplares, sem exibicionismos, e os músicos vão entrando e saindo consoante cada canção pede (sim, isto são mesmo canções). Apesar da diversidade instrumental entre os temas, o resultado do bloco final é homogéneo. Destacam-se, a guitarra de Lisboa, com um travo português preso naquele dedilhar, a emoção de Eyes from Above, sublinhada pela voz de Cabral, o piano contido de Esteves da Silva em Far Far Away, acompanhado pela voz espectral de Elina Silova, a guitarra de Although You’re Going… e o seu irresistível assobio, e a melodia redonda de The Heart is a Lonely Hunter, a reflectir o espírito melancólico do livro homónimo. Hasselberg e Branco ousaram aventurar-se, cruzaram mundos sonoros sem medo, encontraram pontes entre o jazz e a folk. Entre guitarra, contrabaixo e convidados, chegaram à sua própria música, especialíssima, emotiva e aveludada. Fizeram bem em arriscar, mais ninguém faz música assim.

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