Arquitectos portugueses vão instalar um “farol social” no Canadá

Com o projecto "The Beacon", João Araújo Sousa e Joana Correia Silva foram seleccionados entre 400 candidaturas e integram a lista dos cinco vencedores do concurso Winterstations. Uma instalação artística com fins sociais

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Stevan Evans

Toronto não fica na costa canadiana, mas a simbologia de um farol é conhecida em qualquer parte do mundo. Por isso, os arquitectos portuenses João Araújo Sousa e Joana Correia Silva não tiveram dúvidas em assumir o farol marítimo como ponto de partida para o projecto que apresentaram ao concurso Winterstations. Inspiraram-se na "forma" desta estrutura, mas também na "simbologia de ser um elemento de esperança e de orientação", contou João ao P3. A ideia conquistou o júri internacional: os portugueses foram um dos cinco vencedores entre 400 concorrentes de todo o mundo.

A construção da instalação artística baptizada de The Beacon (O Farol) está já em curso e estará em exposição na praia de Woodbine, Toronto, de 20 de Fevereiro a 27 de Março de 2017. Ao atelier do Porto têm chegado ecos dos construtores. "Ficaram surpreendidos com a escala brutal daquilo", sorri João Araújo Sousa. São oito metros (o equivalente a um prédio de três andares) construídos em madeira de cedro reciclada e com ar envelhecido. No final da exposição, o farol poderá ser reciclado — "ou instalado noutro local da cidade, o que seria perfeito".

A estrutura não é apenas decorativa. Com o tema "catalisador" como ponto de partida dado pelo concurso, o casal decidiu imprimir ao projecto um lado social. Na parte mais baixa do "farol", vão ser feitas aberturas que funcionam como "repositório de alimentos e de roupa". A ideia não foi apenas que este se transformasse num local de caridade, mas sim "chamar a atenção para o tema". É que, na pesquisa para o trabalho, João e Joana perceberam que há no Canadá "problemas sociais graves" e "muitas instituições de caridade e redes de recolha de alimentos".

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Esta espécie de "farol social" deve funcionar como um "atractor de pessoas" ao local e uma forma impactante de as fazer pensar no tema. Em Fevereiro, ainda antes da inauguração, os arquitectos, ambos com 36 anos, vão acompanhar em Toronto o "período final da construção e da instalação" do projecto. Nessa fase, vão "falar com os media [locais]" e procurar, dessa forma, atrair mais gente para a ideia.

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Este não é o primeiro prémio que a dupla arrecada. Em 2014, deram nas vistas com uma casa modular que lhes valeu uma menção honrosa no concurso internacional Marlegno Designing the Future 2014. Meses antes, tinham recebido uma distinção semelhante num concurso de arquitectura nos Estados Unidos.

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João Araújo Sousa e Joana Correia Silva abrira um atelier no Porto em 2009

Participar em concursos internacionais tem sido para esta dupla que se conheceu no curso de Arquitectura na Escola Superior Artística do Porto (ESAP) uma forma de "melhorar as capacidades" mas também de "colmatar a falta de trabalho". O atelier no Porto foi criado "em 2009, pleno ano de crise", e tem sido um acto de resistência: "Nessa altura os projectos tinham estagnado e juntamo-nos com a intenção de continuar a trabalhar na nossa área e a desenvolver as nossas ideias", recorda João Araújo Sousa. Agora, os arquitectos têm sentido uma "retoma", ainda que tímida, na "actividade de construção", sobretudo com a "reabilitação urbana". "Vai havendo mais trabalho no Porto", congratula-se João. Na Rua de Monte Cativo, no Porto, pode ver-se a mais recente criação deles.

Notícia actualizada no dia 1 de Março com fotografias do projecto já instalado no Canadá. 

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