Depois das sanções, o Irão à procura de investimento estrangeiro

Investimento externo ainda só vale 0,5% do PIB do país. Sinais de abertura com encomendas à Boeing e à Airbus.

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Reuters

O levantamento das sanções económicas e financeiras relacionadas com o nuclear do Irão pode ter despertado a atenção dos investidores estrangeiros desde há um ano para cá, não fosse o país o sétimo maior produtor de petróleo a nível mundial e uma mina de recursos naturais por explorar. Mas ainda não desfez o impacte que as restrições tiveram no desenvolvimento da economia do país.

O peso do investimento directo estrangeiro é ainda muito pouco, embora haja sinais de que a abertura económica impulsionada pelo fim das sanções deu frutos ao fim de alguns meses – pelo menos em intenções. A renovação e a expansão da frota da companhia aérea Iran Air ganhou contornos históricos com a assinatura de um contrato com a Boeing.

Embora ainda esteja em risco de acabar imobilizada por acção dos republicanos no Congresso norte-americano, o acordo com a Boeing é o primeiro em 40 anos. Desde 1977 que a fabricante não entrava no mercado iraniano e, agora, vai construir 80 aviões avaliados em 16,600 milhões de dólares (cerca de 15,700 milhões de euros) que serão entregues à companhia ao longo de dez anos, a começar em 2018. Para a Iran Air, a Airbus também vai produzir cem aviões e, para marcar simbolicamente o arranque da parceria, já foi entregue em Dezembro um primeiro A321.

Até 2015, o investimento directo estrangeiro no país caiu durante três anos consecutivos, para 2000 milhões de dólares, representando apenas 0,5% do PIB. Ainda não há indicadores sobre o que aconteceu em 2016. Mas a perspectivava do Banco Mundial era positiva. “O fim das sanções deverá dar um impulso aos fluxos de investimento directo estrangeiro”, vincava recentemente a organização em relação à segunda maior economia do Médio Oriente e Norte de África.

Depois de uma fraco crescimento em 2015, a economia iraniana já terá crescido 4,5% no último ano, a um ritmo próximo do que aconteceu em 2014. E para este ano deve continuar com um nível de crescimento dessa ordem (de 4,1%, segundo a previsão do Fundo Monetário Internacional).

No caso de Portugal, que para o Irão só envia uma ínfima parte das suas exportações de bens (0,03%), o valor exportado teve no ano passado uma queda muito significativa, de 29% até Novembro.

Com o fim das sanções, os países ocidentais, nomeadamente os europeus, esperam que as portas da economia iraniana se abram progressivamente, depois de anos em que o crescimento das indústrias de refinação do petróleo, a produção de electricidade ou a siderurgia ficou dependente do mercado interno.

A revista Economist notava recentemente, porém, que a economia iraniana não está a conseguir criar empregos ao ritmo esperado para o nível de crescimento do país. “A maior parte da recuperação do Irão pode ser atribuída a um boom na produção de petróleo, que cresceu cerca de 30% nos dez primeiros meses de 2016”. E se, para já, o crescimento do sector petrolífero foi conseguido à boleia da capacidade já instalada, “outros grandes sectores da economia nacional, como a petroquímica e a indústria automóvel, têm sido lentos a recuperar”.

Um projecto de investigação recém-criado na Universidade norte-americana de Stanford sobre o futuro da economia iraniana (Stanford Iran 2040 Project) lembrava que Teerão quer captar investimentos na ordem de 150 a 200 mil milhões de dólares com 50 projectos petrolíferos e de gás abertos à entrada de empresas estrangeiras.

O petróleo tem um peso importante de 30% como fonte das receitas do Estado. No muito curto prazo, o Irão vai beneficiar do facto de poder aumentar a produção petrolífera, apesar do acordo alcançado na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ter vindo impor uma redução dos níveis de produção para combater a baixa dos preços. Ao Irão foi permitido alargar as quotas de produção petrolífera o país vai poder produzir 3,8 milhões de barris por dia (mais 90 mil barris por dia).

 

 

 

 

 

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