O humor negro de Uma Série de Desgraças é para miúdos e graúdos

A história de Lemony Snicket chega ao Netflix esta sexta-feira. É protagonizada por Neil Patrick Harris e tem como produtor executivo Barry Sonnenfeld com quem conversámos.

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Neil Patrick Harris é o maquiavélico Conde Olaf Joe Lederer/Netflix
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As crianças vão receber listas intermináveis de tarefas domésticas Joe Lederer/Netflix
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Violet (Malina Weissman), Klaus (Louis Hynes) e Sunny (Presley Smith) Joe Lederer/Netflix
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Olaf vai disfarçar-se uma e outra vez para tentar roubar a herança dos órfãos Joe Lederer/Netflix

Violet, Klaus e Sunny Baudelaire são três irmãos que ficam órfãos quando os pais morrem num misterioso incêndio, sendo entregues ao cuidado de um primo distante, o temível Conde Olaf. Rapidamente as crianças percebem que Olaf está apenas interessado em apoderar-se da avultada fortuna dos seus pais e que tudo fará para o conseguir. Uma Série de Desgraças, de Lemony Snicket (pseudónimo de Daniel Handler, em Portugal editado pela Terramar), não é a mais feliz das histórias infanto-juvenis, mas tornou-se um êxito nos Estados Unidos desde a publicação do primeiro livro, em 1999. Depois de passar pelo cinema em 2004, numa adaptação que alguns dizem ter-se desviado do original para efeitos cómicos (e com Jim Carrey na pele de Conde Olaf), a saga chega agora ao serviço de streaming Netflix com Barry Sonnenfeld na produção desta versão televisiva.

Cabe a Neil Patrick Harris a tarefa de encarnar o maquiavélico Conde Olaf, o vilão que tem dois amores – o dinheiro e o teatro. Sem um pingo de sensibilidade, o guardião de Violet (Malina Weissman), Klaus (Louis Hynes) e Sunny (Presley Smith) vai esconder-se por detrás de ridículos disfarces para tentar roubar a herança das crianças, ao mesmo tempo que vive iludido quanto ao seu talento como actor. “O Neil é o maior especialista na sua personagem e quer certificar-se de que faz o sotaque e os gestos certos”, conta Barry Sonnenfeld numa conversa telefónica com o PÚBLICO, referindo que o actor tem estado envolvido em “grande parte da produção da primeira temporada”.

Galardoado com vários Emmys e um Tony Award (o equivalente ao Óscar da Broadway), Neil Patrick Harris tem uma interpretação particularmente musical do Conde Olaf, com números escritos e coordenados pelo compositor Nick Urata. No primeiro episódio, após a chegada dos Baudelaire à sua decrépita mansão, Olaf e a sua trupe de teatro actuam para os órfãos, um momento que não deverá ser único no resto da série. “Se temos o Neil Patrick Harris, temos de ter canções e coreografias”, afirma Barry Sonnenfeld. O produtor revelou  ainda que é o actor norte-americano que dá voz à canção dos créditos iniciais desta série, escrita por Daniel Handler.

Uma Série de Desgraças tem uma premissa de infelicidade e desventura que deverá ser seguida à risca na adaptação televisiva de forma a agradar a miúdos e graúdos. “Apesar de ser uma história sombria, não é violenta. Não há explosões, sangue nem armas”, refere Sonnenfeld, reiterando que a série “é pesada emocionalmente, mas não visualmente”. O produtor compara a trama a dois filmes que realizou no início da sua carreira, A Família Addams e A Família Addams 2, “que também são ao mesmo tempo sombrios e engraçados”.

Para assegurar que a adaptação se aproxima o mais possível dos livros,  o autor Daniel Handler tem estado envolvido no argumento da série. No entanto, Barry Sonnenfeld admite ter limado algumas arestas da história. “Precisávamos que as crianças fossem mais proactivas e não apenas vítimas, que tomassem as rédeas do seu futuro”, esclarece. Foram acrescentados, ainda, enredos secundários e personagens novas, que “serão intrigantes tanto para quem leu os livros como para quem não os leu.”

O infortúnio dos Baudelaire sobressai ainda mais devido ao esquema de cores que parece inspirado em Tim Burton e aos cenários e figurinos que fazem lembrar outro tempo. Na verdade, nenhum dos livros especifica a data ou o local da narração e Barry Sonnenfeld aproveitou para criar um mundo próprio isento dessas variáveis. “Apesar de os figurinos terem um aspecto retro, poderiam ser de agora ou de outro ano, mas nunca da era vitoriana”, explica. A elasticidade do tempo da série reflecte-se, por exemplo, na coexistência de carros como um Fiat 500, um Oldsmobile Toronado de 1970 ou um automóvel britânico dos anos 1940.

Lemony Snicket é um narrador presente nos livros e, à semelhança do que aconteceu no filme de 2004, também entra na série. Mas se na adaptação cinematográfica o escritor aparece apenas a narrar a história na sombra da sua secretária, na série do Netflix participa na acção. “Eu e o Daniel tivemos a ideia de mostrar Lemony a contar a história a partir do futuro”, diz o produtor, referindo que “ele não pode interagir fisicamente com Violet e Klaus, mas está lá para ajudar a contar a história visualmente”.

Para esta primeira temporada estão programados oito episódios, mas a produção espera que o sucesso dos livros sirva de empurrão à série. Dessa forma, os treze volumes seriam explorados ao longo de três anos, num total de 26 episódios. Cada livro corresponderá a dois episódios, traduzindo-se a primeira temporada nos quatro primeiros livros.

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