Centenas em Lisboa contra “bomba-relógio” de Almaraz

Na manifestação frente ao consulado de Espanha participaram muitos cidadãos anónimos mas também líderes de movimentos ecologistas e de partidos políticos em Portugal e Espanha.

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“Chernobyl, Almaraz, Fukushima nunca mais”, gritou-se na manifestação ENRIC VIVES-RUBIO
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Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, mostrou-se contra as obras que estão em curso em Almaraz ENRIC VIVES-RUBIO
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"Estamos perante uma bomba-relógio que a qualquer momento pode rebentar", diz André Silva, do PAN ENRIC VIVES-RUBIO
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Entre 200 a 300 pessoas manifestaram-se nesta quinta-feira frente ao consulado espanhol em Lisboa contra a central nuclear de Almaraz e o aterro de resíduos nucleares que ali poderá vir a ser construído, num protesto onde participaram muitos cidadãos anónimos mas também líderes de movimentos ecologistas e de partidos políticos em Portugal e Espanha.

“Os cidadãos vêm aqui mostrar que estão contra a central nuclear de Almaraz e querem que esta encerre o mais depressa possível”, explicou Nuno Sequeira, dirigente da direcção nacional da Quercus, referindo que estavam presentes na manifestação, na Avenida da Liberdade, “cerca de 200 a 300 pessoas”. “É triste, mas parece haver mais preocupação em Portugal do que em Espanha”, declarou Alvaro Jaen, do espanhol Podemos.

A manifestação teve dois propósitos claros: pedir o fecho da central nuclear situada a 100 quilómetros da fronteira portuguesa e impedir a construção do aterro nuclear que as autoridades espanholas projectaram para o local. André Silva, do PAN, acredita que o Governo espanhol pretende prolongar o funcionamento da central por mais dez anos — de 2020 para 2030 — e “só o conseguirá se tiver um novo depósito para resíduos nucleares”. “Fechar Almaraz é a decisão óbvia. Estamos perante uma bomba-relógio que a qualquer momento pode rebentar”, sustenta o deputado do PAN.

Uma das manifestantes, Valentina Sousa, empresária agrícola, considera “injusto que em Portugal se tenha feito um esforço para apostar em energias renováveis” e o país agora “sofra as consequências do governo espanhol”. Também Helena Roseta, do PS, sublinha que Portugal fez um caminho diferente do de Espanha ao conseguir ter 60 a 70% da energia produzida por fontes naturais. “Não podemos ficar calados”, diz a deputada, considerando “gravíssima” a posição do Governo espanhol.

Para António Eloy, do Movimento Ibérico Antinuclear, a construção do aterro nuclear representa “a continuação do funcionamento de Almaraz”, pelo que é necessário colocar “na agenda do Parlamento espanhol a questão do encerramento das centrais nucleares”. Já Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, garante que “não é compreensível nem aceitável que centrais nucleares possam funcionar depois do seu período de vida”.

“Estamos a falar de uma questão muito séria de segurança ambiental”, afirma Heloísa Apolónia, do PEV, defendendo que ainda é possível “travar este armazém e o prolongamento da central”, ainda que considere que o Governo português se devia ter mobilizado mais cedo em defesa da sua posição.

“Há uma violação clara de uma directiva comunitária”, diz Helena Roseta, “porque é obrigatório um estudo de impacto ambiental transfronteiriço quando existem instalações que têm impacto dos dois lados da fronteira”. Catarina Martins sublinhou a importância de existir um plano de emergência para a questão nuclear em Portugal, destacando que Portugal será vítima de qualquer acidente nuclear que possa acontecer em Almaraz, pelo que considera ser urgente “suspender as obras que estão em curso em Almaraz”. “Não podemos estar a fazer um estudo de impacto ambiental e as obras estarem em curso, é inaceitável”, acrescenta.

Ao som dos tambores, por entre cartazes e faixas de protesto, ouviram-se cânticos como “Fechar Almaraz”, "Chernobyl, Almaraz, Fukushima, nunca mais" ou “sim às renováveis, não às nucleares”. A segurar um cartaz com a inscrição “de 2020, “Almará” no pasará!” estava Marcos Silva, que se decidiu juntar à manifestação por considerar assustadora “a perspectiva de se criar um aterro nuclear em vez de encerrar a central de Almaraz”, mostrando-se ainda preocupado com o futuro “da sua geração e das gerações vindouras”.

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