Obama acaba com política "pés secos, pés molhados" para os cubanos

Fim da política "pés secos, pés molhados" é a última medida adoptada pelo Presidente dos EUA na sua estratégia de normalização das relações com Cuba. Decisão tem efeitos imediatos.

Foto
Reuters/ALEXANDRE MENEGHINI

A uma semana de deixar a Casa Branca, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu mais um passo na política de normalização das relações com Cuba ao anunciar o fim, com efeitos imediatos, da política conhecida como "wet foot, dry foot" (pé molhado, pé seco), que permitia aos cubanos que entravam em território americano sem visto obterem automaticamente autorização de residência.  

A decisão termina com uma política instituída em 1995 pelo ex-Presidente Bill Clinton, em resposta ao êxodo de dezenas de milhares de cubanos que fugiam à dura crise económica que atingia o país, arriscando a vida no mar para chegar de barco à Florida. Quem conseguisse chegar a terra teria, quase sem excepções, direito a permanecer e trabalhar no país, enquanto os que fossem interceptados na viagem pela Guarda Costeira norte-americana eram repatriados.

Considerada uma peça-chave na política de Washington em relação ao regime comunista cubano, a política era há muito criticada por Havana, alegando que contribuía para a fuga de mão-de-obra qualificada do país e instigava muitos dos seus cidadãos a arriscarem a vida no mar. Também outros países da América Latina a criticavam, argumentando que criava um tratamento discriminatório de imigrantes em situações idênticas – os cidadãos de outras nacionalidades são repatriados, se chegarem aos EUA sem o respectivo visto.

“Com esta mudança vamos continuar a receber os cubanos da mesma forma que recebemos os imigrantes das outras nações, de forma consistente com as nossas leis”, afirma o presidente Barack Obama num comunicado divulgado quinta-feira à noite, anunciando a entrada imediata em vigor das novas regras. Segundo a imprensa americana, há vários meses que Cuba e os EUA estavam a negociar este acordo, mas as autoridades optaram por não fazer qualquer anúncio prévio, receando um pico no número de chegadas. A normalização das relações entre os dois países, desencadeada pelo histórico acordo anunciado em Dezembro de 2014, deu origem a um aumento na imigração cubana: segundo Ben Rhodes, conselheiro de segurança nacional de Obama, em 2015 entraram nos EUA 40 mil cubanos, no ano seguinte foram 54 mil, a grande maioria através da fronteira com o México.

“Hoje foi eliminado o detonador das crises de imigração. Os EUA asseguraram uma imigração legal, segura e ordeira vinda de Cuba”, congratulou-se Josefina Vidal, responsável para as negociações com os EUA no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Cuba. Ao abrigo do acordo, Havana compromete-se a receber os cubanos a quem os EUA tenham negado autorização de permanência, desde que tenham passado menos de quatro anos entre o momento em que saíram de Cuba e o início do processo de deportação. O Departamento de Segurança Interna decidiu também, sem aviso prévio, pôr fim ao programa, iniciado em 2006, que permitia a entrada nos EUA aos médicos cubanos que decidissem desertar, uma política que Havana considerava hostil.

O fim das isenções imigratórias para cidadãos cubanos será a última das iniciativas adoptadas por Obama para normalizar as relações com o regime castristra – uma viragem histórica que fica em suspenso com a chegada à Casa Branca de Donald Trump. O Presidente eleito, durante a campanha, repudiou a política de Obama, dando a entender que poderá recuar na aproximação, se Havana não fizer reformas políticas. E se o Presidente eleito é defensor de um endurecimento da política de imigração, vários dissidentes cubanos repudiam esta última decisão de Obama, afirmando que o fim da isenção “é um presente de despedida para Raul Castro”, como disse à BBC Tomas Regalado, mayor de Miami e ele próprio um exilado.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários