Novo director da Gulbenkian de Paris quer continuar "caminhos originais"

Outra das ambições de Miguel Magalhães é "continuar a enriquecer a actividade da biblioteca".

Foto
A delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian quer levar "os melhores artistas" portugueses a Paris DR

Miguel Magalhães é o novo director da delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian e pretende "dar continuidade" ao trabalho efectuado nos últimos cinco anos, "com caminhos originais" que passam por levar "os melhores artistas" portugueses a Paris.

"Os projectos da delegação apresentam-se na continuidade dos últimos cinco anos. (...) A concorrência e a competição em Paris é enormíssima e a Fundação Gulbenkian tem de fazer um esforço redobrado para se fazer notar, e esse esforço passa por encontrar caminhos originais, por naturalmente fazermos as coisas muitíssimo bem, trazer os melhores artistas, convidar os melhores curadores", declarou Miguel Magalhães que tomou posse este mês.

A primeira exposição do ano, entre 25 de Janeiro e 16 de Abril, vai apresentar, pela primeira vez em França, a obra de Ângelo de Sousa (1938-2011), sob o título La Couleur et Le Grain Noir des Choses (A Cor e o Grão Preto das Coisas), comissariada por Jacinto Lageira, professor de Estética e Filosofia de Arte na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne.

No final de Maio, é inaugurada uma exposição da artista Graça Morais, "com uma obra muito interessante em torno de vários temas relacionados com a mulher, um trabalho que tem uma proximidade muito grande à literatura" e, no final do ano, a instituição é palco de L'Exposition d'un Rêve, uma "exposição sonora" que reúne vários artistas, avançou Miguel Magalhães.

90 mil livros
Outra das ambições do novo director é "continuar a enriquecer a actividade da biblioteca" - "provavelmente" a maior biblioteca lusófona fora de Portugal e do Brasil com mais de 90.000 volumes - através da digitalização de obras, mostras bibliográficas, apresentação de livros e encontros com escritores de língua portuguesa.

Nesse sentido, no primeiro trimestre deste ano, estão programadas conversas com os escritores Valério Romão, finalista do prémio Femina para romance estrangeiro em 2016, Nuno Júdice, Rui Zink, Marcia Tiburi e Rodrigo Ciriaco. No final do ano, a biblioteca vai apresentar "uma pequena mostra bibliográfica em torno de um pedagogo e de uma figura portuguesa dos anos 50, excêntrica e bastante esquecida, que é o Paulo de Cantos", acrescentou Miguel Magalhães.

No programa prevê-se, ainda, um ciclo de encontros intitulado "Atlas das palavras e das imagens das colonizações", em torno das realidades pós-coloniais, um ciclo em que artistas contemporâneos são convidados a falar sobre a sua produção, a começar pelo escultor Rui Chafes (28 de Março), e um ciclo de debates promovido pelo artista e poeta francês Franck Leibovici e intitulado Des oeuvres-enquêtes sobre as possibilidades da arte na resolução dos problemas públicos.

Em Maio, vai ser realizado um colóquio em torno de arte e imagens em parceria com o Camões-Instituto da Cooperação e da Língua. Ainda no âmbito do programa de conferências, a delegação francesa da Gulbenkian vai manter parcerias com diversas instituições europeias e convidar, por exemplo, o filósofo francês Régis Debray, o escritor francês Michel Crépu, o historiador alemão Jürgen Kocka e o filósofo italiano Maurizio Ferraris.

Miguel Magalhães, que foi adjunto ao ex-director João Caraça, entre 2011 e 2016, sentiu "uma mudança de percepção" do público francês relativamente à cultura e às artes portuguesas, destacando como principais momentos, nos últimos anos, a organização da exposição de pinturas de Paula Rego, em 2012, e da exposição em torno dos livros Pliure, em 2015, assim como a co-organização das mostras sobre Amadeo de Souza Cardoso, no Grand Palais, e sobre os últimos 50 anos da arquitectura portuguesa, na Cité de l'Architecture & du Patrimoine, no ano passado.

"Como sabemos, Portugal está na moda em França, há muitos franceses a mudarem-se para Portugal, muitos a visitarem e, num período extraordinariamente curto, num processo muito rápido, a percepção que o público francês tem de Portugal e, por consequência, da nossa actividade da fundação mudou muito rapidamente. Somos felizes beneficiários desta mudança de percepção", acrescentou.

Miguel Magalhães sucede a João Caraça, de quem foi adjunto, com responsabilidades na programação cultural e na comunicação, tendo entrado para a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 2005, onde trabalhou nos projectos "Próximo Futuro" e "O Estado do Mundo".

De 1996 a 2000, foi assistente de direcção, entre outras responsabilidades, no Teatro Nacional de São João, no Porto, e, entre 2000 e 2003, foi director artístico do Casino da Póvoa.

Sugerir correcção
Comentar