Um dos nazis mais procurados morreu em 2001 e aconselhou a família Assad

Brunner foi acusado pela morte de mais de 128 mil judeus. Nova investigação diz que morreu de forma "miserável" em Damasco e depois de ter vivido sob protecção do regime de Assad.

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Alois Brunner foi, nas últimas décadas, o alto dirigente nazi mais procurado do mundo. Muito se especulou sobre o local e data da sua morte, ou se esta teria mesmo ocorrido. Historiadores concluíram primeiro que o dirigente austríaco das SS nazis teria morrido em 1992 e, mais tarde, apontou-se o ano de 2010. No entanto, uma revista francesa desenvolveu mais uma investigação e diz que Brunner perdeu a vida aos 89 anos, em 2001, na capital síria, Damasco.

Nascido em Abril de 1912, no Império Austro-Húngaro, Brunner foi o braço-direito Adolf Eichmann, considerado o arquitecto da “Solução Final” para a questão judaica lançada por Adolf Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial, Eichmann terá mesmo considerado o austríaco como o seu “melhor homem”.

Brunner foi acusado de estar directamente envolvido na morte de mais de 128 mil judeus, como um dos responsáveis pelas deportações para campos de concentração. Em concreto, liderou o campo de deportação de Drancy, nos arredores de Paris. Calcula-se que entre as vítimas estariam pelo menos 345 crianças.

Depois da derrota do Terceiro Reich na Segunda Guerra Mundial, sabe-se que Brunner fugiu da Alemanha Ocidental em 1954, rumo ao Egipto e, depois, para a Síria onde terá permanecido até ao fim da vida, diz a recente investigação da revista francesa Revue XXI. Nesse ano foi condenado à morte em França, in absentia (expressão jurídica para uma condenação aplicada a alguém que não está presente fisicamente).

A revista gaulesa publica relatos de três membros dos serviços de segurança sírios e que terão sido responsáveis pela protecção de Alois Brunner. Estes relatam que o nazi viveu sob alçada e protecção da família Assad e que morreu em sofrimento e em condições “miseráveis”.

Segundo contam os entrevistados, o pacto com os Assad deu-se em 1966,  com Hafez al-Assad. Nesse ano, o pai do actual Presidente da Síria, Bashar al-Assad, assumia a pasta da Defesa de um Governo saído de um golpe militar. O novo ministro recorreu a Brunner para aconselhamento aos serviços de segurança sírios, em troca da sua própria protecção.

Em 1971, Hafez al-Assad chega definitivamente ao poder e começa, logo de início, a desenvolver estratégias e planos repressivos. Para isso contribuiu novamente Brunner com aconselhamento.

Durante todos estes anos, e mesmo depois da morte de Hafez, em 2000, e da chegada ao poder de Bashar al-Assad, o Governo sírio negou qualquer ligação com o antigo dirigente nazi, que viveu no país sob identidade falsa.

Depois de ter sido deixado de lado pelo regime, que lhe oferecia residência, Brunner, segundo os testemunhos recolhidos pela Revue XXI, viveu os últimos anos praticamente confinado em casa, tendo passado para um sótão, nos finais dos anos 1990, por “motivos de segurança”. E nunca mais de lá saiu.

Mantendo-se nazi durante toda a vida, dizem os responsáveis pela sua segurança, Brunner morreu de “forma miserável”: “Estava muito cansado, muito doente. Sofria e gritava muito. Toda a gente o ouvia”, diz um dos guardas ouvidos que se identifica com o pseudónimo Omar. Depois de morrer, foi enterrado na capital síria com “total discrição”.

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