U2 adiam álbum por causa de Trump e regressam a The Joshua Tree (por causa de Trump)

Em entrevista à Rolling Stone, The Edge afirma que, depois das eleições americanas, a banda se viu obrigada a repensar Songs of Experience porque, "de repente, o mundo mudou". Já a digressão de comemoração de The Joshua Tree ganhou, pelos mesmo motivos, nova relevância.

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The Edge vê um paralelismo entre os anos de Reagan e Thatcher, quando foi editado The Joshua Tree, e a actualidade de Trump e do Brexit Reuters/PAULO WHITAKER

Os U2 dizem não apreciar a nostalgia e que olhar o futuro é o caminho. Ainda assim, anunciaram recentemente uma digressão mundial, sem passagem por Portugal, para celebrar os trinta anos de um dos seus álbuns mais emblemáticos, The Joshua Tree, que representou o seu mergulho decisivo no imaginário americano. Esta terça-feira, em entrevista à Rolling Stone, The Edge revelou também que o novo álbum da banda, Songs of Experience, cuja gravação estava quase finalizada, será adiado. As duas decisões estão directamente relacionadas. Para The Edge, o mundo de 1987, com Reagan e Thatcher, está assustadoramente parecido com o de 2017, o de Trump e do Brexit, e há que parar para reflectir como agir.

No final da última digressão, cumprida até ao final de 2015, a banda não perdeu tempo e recolheu-se a estúdio para completar o sucessor de Songs of Innocence, intitulado Songs of Experience e directamente ligado ao seu antecedente. O trabalho de composição estava quase completado no início de 2016, mas, em Novembro, algo aconteceu — Donald Trump ganhou as eleições para a presidência americana. "De repente, o mundo mudou. E nós pensámos, ‘calma lá, temos que parar um pouco para pensar neste disco e como ele se relaciona com o que se está a passar no mundo’”, conta The Edge à revista americana.

Ao mesmo tempo, enquanto preparavam a digressão de The Joshua Tree, começou a tornar-se claro para a banda que as suas canções ganhavam agora uma renovada actualidade. “O álbum foi composto a meio dos anos 1980, durante a era Reagan/Thatcher da política britânica e americana. Foi um período de muita agitação”, recordou o guitarrista, destacando acontecimentos como a luta de Thatcher para esmagar a greve mineira ou “todo o tipo de acontecimentos suspeitos na América Central” (à época a Administração Reagan intervinha, directa ou indirectamente, na Nicarágua ou em El Salvador, países a atravessarem períodos de grave turbulência política). Para The Edge, estamos, “de certa forma, a regressar ao mesmo”, refere, apontando que por todo Reino Unido se assiste neste momento, "pela primeira vez há gerações", e ainda que de "forma menos intensa", a manifestações operárias por todo o país.

The Joshua Tree foi o quinto álbum da banda irlandesa e nele encontramos clássicos como With or without you, I still haven’t found what I’m looking for e Where the streets have no name. É considerado o disco em que a banda se abre aos Estados Unidos, em som e imaginário. À crítica a situação política americana de então, junta-se, por exemplo, uma canção como Red Hill mining town, sobre a luta dos mineiros ingleses contra a perda dos seus postos de trabalho. “Sentimos que estas canções têm hoje um novo significado e uma ressonância que não tinham há três ou quatro anos”, afirma The Edge.

Por isso avançará, com renovado sentido além da memória nostálgica, a digressão de comemoração de The Joshua Tree, que tem início marcado para 12 de Maio no Canadá, em Vancouver. E, também por isso, Songs of Experience será posto em espera durante algum tempo. “Precisamos de pensar nele uma vez mais antes de o editarmos, para ter a certeza que contém realmente aquilo que queremos dizer”. 

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