“Coragem, democracia, liberdade. Obrigado por tudo”

Milhares de pessoas passaram neste domingo pela sede socialista no lisboeta Largo do Rato. “Obrigado” voltou a ser a palavra mais ouvida no primeiro dia de homenagem a Mário Soares.

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Homenagem no Largo do Rato Rui Gaudêncio
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Homenagem no Rato Rui Gaudêncio
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Filas de espera na sede do PS Rui Gaudêncio
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As filas estendiam-se à rua Rui Gaudêncio
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Flores à porta de casa de Soares Rui Gaudêncio
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Imagens projectadas no Rato Rui Gaudêncio
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Rui Gaudêncio
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Bandeira a meia haste no Palácio de Balém Rui Gaudêncio
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Homenagem continua nesta segunda-feira nos Jerónimos Rui Gaudêncio
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“Obrigado”. A palavra repete-se vezes sem conta desde que foi conhecida, no sábado, a morte de Mário Soares, aos 92 anos. Foi dita vezes sem conta por comentadores e cidadãos anónimos. Por amigos e adversários políticos. A câmara de Lisboa espalhou dezenas de cartazes pela cidade com uma fotografia do líder histórico do PS e com uma palavra em destaque: “Obrigado”. No livro de condolências colocado na sede do PS, no alfacinha Largo do Rato, o agradecimento aparece dezenas de vezes, segundo relataram ao PÚBLICO. Junto à casa onde Soares viveu, no Campo Grande e a poucos metros da porta do colégio que é propriedade da família, foram deixadas flores. Principalmente rosas, um dos símbolos do PS, e cravos, a flor da revolução. Num vaso com uma planta foi também deixada uma mensagem escrita: “Coragem, democracia, liberdade. Obrigado por tudo.”

A sede nacional do Partido Socialista, em Lisboa, foi neste domingo o ponto central para recordar o fundador do partido, antigo Presidente, primeiro-ministro e “tudo mais o que ele foi”, como dizia uma mulher no exterior. As paredes da sede foram decoradas com duas enormes fotografias de Soares, uma delas ao lado da sua companheira de sempre, Maria Barroso, e noutra ao lado de Salgado Zenha, um amigo que acabou adversário. Um enorme ecrã ia passando imagens da história de Soares, do PS e de Portugal. No interior há mais fotografias do antigo líder. Em quase todas sorri. E gente, muita gente, milhares de pessoas, no interior e no exterior do palácio, que esperavam pela sua vez para assinar os livros de condolências, colocados em mesas decoradas com rosas, velas e mais fotografias de Soares. Ao lado das mesas, uma bandeira de Portugal, outra da União Europeia e uma outra do PS. As mesas com os livros de condolências começaram por ser duas, mas, a meio da tarde, tiveram de passar a sete, tantas eram as pessoas que queriam deixar uma última palavra àquele que muitos apelidam de “pai da democracia portuguesa”.

As filas estenderam-se de forma quase permanente, ao longo do dia, do topo das escadarias da sede do PS até à esquina entre o Largo do Rato e a Rua das Amoreiras. Socialistas de longa data, membros do Governo, como o ministro das Finanças, Mário Centeno, deputados, eurodeputados, autarcas, com destaque para o da capital, Fernando Medina. Mas, acima de tudo, cidadãos anónimos, militantes do PS ou não, jovens adolescentes a gente de idade avançada, que queriam dizer “obrigado” a Soares pela última vez.

“Não sou socialista, mas tinha de vir aqui. É uma obrigação. Devo este meu último obrigado a Mário Soares”, dizia Júlio Valente, que veio de Santarém para assinar o livro de condolências.

Pelo Rato também passou Manuel Jerónimo, conhecido pelos socialistas mais velhos como Manel 25, hoje com 87 anos. Foi o primeiro segurança de Soares, ainda antes do 25 de Abril (1969). Esteve com ele 20 anos. “Era o seu homem de confiança, especialmente antes do 25 de Abril, quando as coisas eram mais complicadas. Portugal perdeu ontem um homem extraordinário. Um vulto mundial e um pensador único. Um amigo”, diz Jerónimo, lembrando o beliche que partilhou “muitas vezes” com Soares na casa do Campo Grande, antes da revolução, ou o mês que passou com o líder do PS “a dormir” na sede do Rato, em 1975, por haver suspeitas “de uma possível invasão dos homens do MRPP”.

Enquanto Manuel Jerónimo falava ao PÚBLICO, no ecrã gigante do Largo do Rato passavam imagens de Soares na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, em 1974, naquele que muitos chamam “o primeiro 1.º de Maio: “A partir de agora o produto do trabalho é para aqueles que trabalham e não para os parasitas.”

Já ao fim da tarde, o socialista Jorge Coelho assinalava o facto de a maior parte dos milhares de pessoas que por ali passaram serem cidadãos anónimos, “gente do povo”, referindo que se Soares pudesse ter assistido a esta homenagem “ficaria muito contente” por “mais uma vez ver o povo ao seu lado”.

Pela sede socialista passaram também várias delegações de partidos políticos, sempre recebidas pela secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes. A primeira foi do PSD, chefiada por Passos Coelho, acompanhado pelo secretário-geral do partido Matos Rosa.

Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, e os dirigentes do BE Marisa Matias e Luís Fazenda marcaram presença em nome do movimento. Uma comitiva do PCP, composta pelo líder parlamentar, João Oliveira, pelo vice-presidente da bancada comunista António Filipe e pelo membro do secretariado nacional do Comité Central José Capucho, também prestou a sua homenagem, entrando e saindo em passo apressado.

A sede deveria ter fechado às 19h, mas às 20h ainda se mantinha aberta, por haver muita gente que não tinha assinado os livros de condolências. Na segunda-feira abre às 10h, com a hora prevista de fecho a ser alargada para as 21h30.

Também nesta segunda-feira o corpo de Mário Soares estará na Sala dos Azulejos do claustro do Mosteiro dos Jerónimos, onde deverá chegar pelas 13h – depois de um cortejo pela cidade de Lisboa – para as cerimónias fúnebres abertas aos cidadãos que desejem homenagear o antigo Presidente.

Neste domingo, já perto das 19h, quando o PÚBLICO deixava o Largo do Rato, outra frase de Soares ecoava no ecrã, esta dita num comício contra a intervenção militar no Iraque em 2003. “O povo é quem mais ordena. Não se deve decidir a paz e a guerra sem ouvir o povo.”

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