Governo apela a multidão nas ruas de Lisboa

O luto nacional de três dias pela morte de Mário Soares culmina com uma sessão evocativa no Parlamento. Neste domingo, todos os caminhos iam dar ao Largo do Rato, onde o PS disponibilizou vários livros de condolências.

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Milhares de pessoas deslocaram-se neste domingo ao Largo do Rato para assinar os livros de condolências Rui Gaudêncio

Amanhã, segunda-feira, não é feriado. E depois de amanhã também não. Ainda assim, o Governo “apela a todos os cidadãos que participem nas cerimónias fúnebres de Estado, prestando homenagem a Mário Soares, grande figura da história portuguesa contemporânea, fundador do nosso regime democrático e símbolo da Liberdade”. É o que se lê no último parágrafo do documento que decreta os três dias de luto nacional, de 9 a 11 de Janeiro.

António Costa não dará o exemplo, já que decidiu manter a visita oficial à Índia – o que está a gerar uma chuva de críticas, sobretudo nas redes sociais – alterando apenas alguns pontos do programa, do qual eliminou os momentos menos formais e ao qual juntou pequenas homenagens, como o minuto de silêncio que neste domingo calou oito mil pessoas numa sala de congressos em Bangalore. “Trata-se de uma vista de Estado e, portanto, os primeiros-ministros não têm aqui vontades pessoais. Têm de fazer o que devem fazer”, justificou-se António Costa.

Do Oriente chegará, no entanto, uma mensagem gravada em vídeo para ser emitida no Mosteiro dos Jerónimos, como revelou o próprio primeiro-ministro: "Como chefe do Governo, não deixarei de fazer a minha intervenção, assegurando, naturalmente, que o funeral de Estado que o Governo decretou decorrerá com tudo aquilo que se exige.”

Na impossibilidade de Costa interromper a visita à Índia, coube ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, pôr-se a caminho de Lisboa (era um dos governantes que integravam a comitiva). Nos próximos dias, será ele o primeiro-ministro em funções e o membro do Governo que ficará encarregue de receber os representantes de países estrangeiros (como Michel Temer) que são esperados no funeral, marcado para terça-feira, às 15h30.

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Lugar na História

Ate lá, prosseguem as declarações públicas sobre Mário Soares. O seu antecessor na Presidência da República, Ramalho Eanes, defendeu neste domingo que “pela acção de combate político determinado que desenvolveu em prol das liberdades e da democracia, primeiro, e depois da consolidação de uma democracia moderna, constitucional, pluralista, Mário Soares tem direito ao reconhecimento da pátria e a ocupar um lugar de grande relevância na história no nosso país”.

O socialista Vítor Constâncio disse que Soares “foi o maior político e estadista português do século XX, o mais influente de todos” e que, apesar de algumas passageiras divergências políticas, sente “a sua perda como a de um amigo”. Para o seu sucessor na liderança do PS e actual vice-presidente do BCE, o principal legado do ex-Presidente da República é o ter-nos deixado a liberdade e a cidadania europeia. "Espero que o país lhe saiba agradecer devidamente”, disse.

Em entrevista à RTP, o amigo-adversário político-e-outra-vez-amigo Manuel Alegre evocou Soares como um combatente antifascista e um “homem de fibra, optimista e voluntarioso” com “muita alegria”.

Até quarta-feira prossegue também a romaria de socialistas, e não só, à sede do PS, no Largo do Rato, onde o partido disponibilizou seis livros de condolências. Pedro Passos Coelho passou por lá esta manhã, acompanhado por José Matos Rosa, para deixar a sua mensagem e assinatura. Foi recebido por Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, mas não quis prestar declarações. À sua semelhança, a delegação do PCP entrou e saiu em silêncio.

Apesar de o Bloco de Esquerda ter realizado uma reunião da Mesa Nacional, o órgão mais importante entre convenções, Catarina Martins também se deslocou ao Rato. “Viemos dirigir as nossas condolências ao PS e à família de Mário Soares. Saudamos a memória do combatente antifascista, anticolonialista”, afirmou a líder do BE, acompanhada por Marisa Matias e por Luís Fazenda.

Catarina Martins sublinhou que Soares “teve uma história política longa, muitas vezes em confronto com a esquerda, outras vezes em aliança”, mas reconheceu: “é, seguramente, uma figura que marca o século XX e a nossa democracia”.

No último dia de luto nacional, quarta-feira, a Assembleia da República junta-se à homenagem a Soares através de uma sessão evocativa decidida por unanimidade em conferência de líderes e marcada para as 15h.

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