Russos troçam do relatório norte-americano

Deputado compara as conclusões à descoberta de armas de destruição maciça no Iraque.

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Os serviços de informação americanos dizem que a televisão estatal foi usada para difundir mensagens a mando do Governo Reuters/ILYA NAYMUSHIN

Donald Trump e o deputado russo encarregue do comité dos Negócios Estrangeiros têm, pelo menos, uma coisa em comum: ambos usam o Twitter para desacreditar o relatório dos serviços de informação americanos que acusam a Rússia de se ter intrometido nas eleições presidenciais.

O deputado russo Alexei Pushkov comparou o relatório sobre a tentativa de influência nas eleições com o relatório sobre as armas de destruição maciça que motivaram a invasão do Iraque: “A montanha pariu um rato: todas as acusações contra a Rússia assentam em ‘confiança’ em suposições. Os EUA também asseguravam que Saddam tinha armas de destruição maciça”.

Pushkov não foi a única personalidade russa a recorrer ao Twitter para mostrar cepticismo face às conclusões dos serviços americanos, narra o jornal The New York Times. A directora da televisão RT, financiada pelo Estado russo e que emite em inglês, reagiu com troça à ligação feita no relatório entre a estação e uma estratégia de Moscovo para influenciar o resultado eleitoral. “Aaa, o relatório da CIA saiu. É a anedota do ano! A introdução do meu programa de há seis anos é a principal prova da influência russa nas eleições. Isto não é uma piada!”, escreveu Margarita Simonyan. Tanto esta publicação como a de Pushkov têm várias respostas de utilizadores que criticam e gozam com os EUA.

A versão não confidencial e mais curta do relatório americano refere que a RT, bem como a agência noticiosa estatal Sputnik (que é dirigida a uma audiência internacional e tem sites em várias línguas), foi usada para difundir mensagens por ordem de Moscovo e interferir nas eleições. “A Rússia (…) tem um historial de levar a cabo campanhas de influência dissimuladas, focadas nas eleições presidenciais americanas, que usaram agentes de informação e elementos e publicações na imprensa para desacreditar candidatos considerados como hostis ao Kremlin”, lê-se no documento, que refere como participantes nestas acções “agências do Governo russo, os media financiados pelo Estado, intermediários externos e utilizadores de redes sociais pagos ou trolls”.

A directora da RT não foi a única jornalista a apontar falhas ao relatório. O editor do site do jornal The Moscow Times, um semanário moscovita de língua inglesa, escreveu um editorial, que era neste domingo o artigo com maior destaque no site, em que argumenta que as conclusões “esticam o senso comum” e classifica como “preocupante” o facto de os serviços de informação americanos parecerem considerar que a RT é uma televisão de influência global quando, diz Kevin Rothrock, a popularidade da estação se deve sobretudo a conteúdos que nada têm a ver com política. 

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