É dia de Reis e a Pataca Discos faz a festa, perdão, monta um Sarau

A editora de You Can't Win Charlie Brown, They're Heading West, Bruno Pernadas ou Real Combo Lisbonense reúne-se para um concerto conjunto no Teatro Ibérico. A partir das 22h desta sexta-feira, festejam a editora que é também cooperativa, que é família, resumidamente.

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Os They're Heading West dr
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Os They're Heading West dr

No ano passado o Sarau foi de Natal. Este ano, o Natal já lá vai, mas os Reis estão a chegar. E, neste caso, não falamos especificamente dos magos celebrados no fim da época natalícia. Estes reis são outros. São, digamos, a aristocracia da Pataca Discos, fundada pelo músico e artista plástico João Paulo Feliciano, ou seja, são todos os músicos que fazem a editora. Esta sexta-feira à noite, a partir das 22h, o Teatro Ibérico, em Xabregas, recebe They’re Heading West, Benjamim, Bruno Pernadas, You Can’t Win Charlie Brown, Julie & The Carjackers, Minta & The Brook Trout, Tape Junk e Real Combo Lisbonense, onde encontramos João Paulo Feliciano (bilhetes a dez euros).

Francisca Cortesão, a Minta de Minta & The Brook Trout e co-fundadora desses They’re Heading West que nos últimos anos têm aproveitado a residência mensal na Casa Independente, no Intendente, Lisboa, para promoverem encontros com os músicos mais diversos – Ana Moura, Samuel Úria, Camané, Capicua, JP Simões, entre muitos outros (Old Jerusalem será o próximo convidado) —, corre a cortina para vermos o que se irá passar. Os They’re Heading West, ou seja, Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, João Correia e Sérgio Nascimento, enquanto anfitriões do Sarau, acolhem em palco cada uma das restantes bandas. Tocarão em conjunto duas canções e depois os They’re Heading West saem de cena para que a outra banda toque o seu par de músicas – e assim sucessivamente. Ao longo da noite, haverá dois intervalos para recarregar copos no bar, dar uma olhadela aos CD do catálogo da editora ou, simplesmente, conviver. “Queremos que haja tempo para as pessoas conversarem entre si, isso também faz parte da ideia”, explica Francisca Cortesão.

A Pataca é uma estrutura independente que funciona realmente em modo familiar. “Já começa a ser difícil saber se somos amigos primeiro e começámos a tocar juntos depois ou vice-versa. Há todo o tipo de misturadas aqui dentro mas, como diz o João Paulo [Feliciano], gostamos muito da música uns dos outros”, realça Francisca. Este tipo de estrutura, que agrega a gravação, edição, agenciamento e demais necessidades no funcionamento de uma editora, não é inédito. Parece, aliás, consequência das novas formas de organização, mais próximas, mais comunitárias, criadas por músicos e outros agentes perante a nova realidade da indústria musical. O que faz a diferença, claro, é a personalidade que sobressai nestas micro comunidades. É o caso da Pataca, que funciona como pólo agregador e, ao mesmo tempo, como motivador para novas criações. “A questão é que a música continua a ser muito heterogénea, mesmo quando as pessoas são as mesmas”, diz Francisca. Não há como negar. João Correia tem os Tape Junk, toca com They're Heading West e com Bruno Pernadas, a solo e no duo Julie & The Carjackers. Francisca Cortesão, Minta, e Afonso Cabral, dos You Can’t Win Charlie Brown, dão voz à big band de Bruno Pernadas, que, por sua vez, podemos também encontrar no Real Combo Lisbonense. A música caminha em diferentes direcções e os músicos saltam de uma para outra sem sobressaltos.

A primeira edição com o selo Pataca Discos surgiu em 2010. Era , o álbum de estreia de Márcia. A partir desse ano, a editora foi crescendo organicamente a partir do seu centro, o estúdio 15A, em Xabregas. Daí, de resto, a importância de o Sarau ter lugar na mesma zona oriental de Lisboa habitada pela editora. “Esta zona é a casa da Pataca e, provavelmente, a maior parte de nós não a frequentaria se não tivesse ali o estúdio”, confessa Francisca Cortesão, que aproveita para assinalar “o trabalho de divulgação fotográfica da zona, muito engraçada” que tem sido feito por João Paulo Feliciano.

Hoje, a Pataca tem no seu catálogo uma mão cheia de nomes e edições que marcaram a música portuguesa de anos recentes. Como Saudade de Você, o álbum que os Real Combo Lisbonense dedicaram a Carmen Miranda, Auto-Rádio, de Benjamim, os três de Bruno Pernadas, dois dos You Can’t Win Charlie Brown, em destaque este ano com o terceiro da discografia, Marrow, ou a estreia homónima dos They’re Heading West. Estes últimos, recorde-se, nasceram para dar concertos, em Portugal, que lhes permitissem reunir fundos suficientes para uma digressão americana. “E estamos no sexto aniversário de uma banda que era suposto ter durado uns meses”, sorri Francisca.

Esta sexta-feira à noite, porém, nem os anfitriões, nem nenhuma das outras bandas receberá cachet pela actuação. “Isto é um projecto de amor e carinho iniciado pelo João Paulo [Feliciano]. Mesmo sendo editora, a Pataca viabiliza-se por ser também agência e porque os discos são gravados no estúdio da editora. Portanto, fazemos [o Sarau] porque todos temos o gosto de tocar ao vivo e de conviver. Fazemo-lo para abater nos custos das edições que não dão lucro”. Fazem-no a bem da família reunida na zona oriental de Lisboa.

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