Um novo altar para o Papa Francisco em Fátima e a barragem de Souto de Moura

Este pode ser um ano de viragem na arquitectura portuguesa, mas parece ser ainda cedo para falar de retoma. Um roteiro possível da agenda da arquitectura, entre Portugal e o mundo.

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O novo presbitério de Fátima,. A obra tem assinatura do arquitecto grego Alexandros Tombazis e de Paula Santos. Fernando Guerra
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O santuário de Fátima tem um novo altar, já a pensar no centenário das Aparições e na visita do Papa, e Álvaro Siza verá concluída a sua igreja em Rennes; a Casa da Arquitectura vai abrir em Matosinhos e o Museu dos Coches ter finalmente um circuito expositivo; Carrilho da Graça acaba o terminal de Cruzeiros e a obra no Campo das Cebolas, em Lisboa; Souto de Moura revelará a arquitectura subterrânea da Barragem Foz-Tua. Será este o ano da retoma da arquitectura? Talvez seja ainda cedo para antecipar um cenário optimista.

O novo presbitério de Fátima foi já consagrado pelo bispo de Leiria-Fátima no ano passado, mas será o Papa Francisco, que visita Portugal em Maio, a fazer a “inauguração” do conjunto do novo presbitério. A obra tem assinatura de Paula Santos. Esta arquitecta e professora na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra confirmou ao PÚBLICO que a nova instalação foi de facto já dedicada, e tem sido usada em cerimónias no santuário de Fátima, mas que “a obra está ainda em curso e em fase de finalização”.  

Trata-se da modernização do recinto de oração que em 1982 recebeu a primeira visita do papa João Paulo II. Tem dois pisos, um deles, subterrâneo, e uma estrutura reformulada, que aproxima mais o altar da assembleia. Além da componente arquitectónica, com destaque para uma pala modernizada, o novo presbitério incluirá uma escultura de Fernanda Fragateiro, um Cristo crucificado de Filip Moroder Doss, e os lugares litúrgicos (púlpito, altar e cadeiras da presidência) foram desenhados pelo arquitecto João Mendes Ribeiro.

Esta será uma das obras de arquitectura a concluir em Portugal este ano, num sector que foi particularmente afectado pela crise, mas cuja situação parece estar a mudar. “Já começa a haver trabalho, não sabemos ainda é se vem para ficar, ou se vai desaparecer de novo”, diz Nuno Sampaio. Este arquitecto com escritório em Matosinhos – e que é o director executivo da Casa da Arquitectura, a inaugurar também este ano – é igualmente o autor, com Paulo Mendes da Rocha, do projecto expositivo do novo Museu Nacional dos Coches. E confirmou ao PÚBLICO que a conclusão desse projecto deverá também acontecer no início deste ano, já que “falta apenas o visto do Tribunal de Contas” para a definitiva instalação dos painéis, vídeos, imagens e estruturas que finalmente irão dar um sentido completo ao percurso do visitante no museu de Lisboa. Também a construção da passagem pedonal sobre a avenida e a linha férrea em direcção ao Tejo foi já adjudicada, acrescenta Nuno Sampaio.

Ainda em Lisboa, deverão ficar também concluídas duas obras públicas com a assinatura de Carrilho da Graça: o terminal de cruzeiros, junto a Santa Apolónia, e a requalificação do Campo das Cebolas.

O arquitecto manifesta-se “bastante entusiasmado com o desenrolar” das duas obras, lançadas respectivamente em 2010 e 2012. O terminal de cruzeiros conheceu atrasos em relação ao calendário inicialmente previsto, mas que resultaram também de alterações ao projecto original, e a obra começou só no ano passado. Vai ter capacidade para acolher 1,8 milhões de passageiros, e uma oferta de serviços que inclui lojas e restaurantes.

Já no Campo das Cebolas, o arquitecto teve de incorporar na intervenção os achados arqueológicos que entretanto foram sendo encontrados – uma velho cais, uma escada, uma parcela pombalina... –, mas que não foram propriamente novidades, pois “já estavam no essencial identificados nos mapas da cidade”, explica Carrilho da Graça.

Também com obras de restauro em vários edifícios da capital está o atelier ARX, de José Mateus. “De resto, estamos com muito trabalho, e interessantíssimo, maioritariamente de reabilitação”, diz este arquitecto, confirmando o que parece apontar para a retoma no sector.

Nuno Sampaio mostra-se ainda cauteloso. “Nos últimos anos, com a crise, houve muitos escritórios que foram obrigados a reduzir as suas equipas e a dispensar arquitectos e colaboradores, o que significou muitos anos de formação que foram perdidos”, diz o arquitecto, cujo atelier conta actualmente com seis pessoas, quando já teve 16. “Agora temos de reconstituir os gabinetes, recuperar o know-how, e voltar a formar pessoas”, acrescenta. “De facto, já começa a haver trabalho, mas não sei se não voltará a desaparecer depois das eleições autárquicas [no final deste ano]”, alerta.

Nuno Sampaio está também a terminar a adaptação da Quinta do Moinho Velho, em Castelo Branco, para ser um Centro Novas Oportunidades, mas a sua principal preocupação, este ano, será a inauguração da Casa da Arquitectura, em Matosinhos, terminada a reconversão da antiga fábrica Real Vinícola, que ocorrerá no dia 16 de Junho, com a inauguração da exposição Poder Arquitectura.

Outra obra de recuperação a concluir em 2017 será a do Convento da Trindade, em Coimbra, um novo centro de investigação na área do Direito, que a Universidade local adjudicou ao atelier Aires Mateus – num ano em que os dois irmãos arquitectos, Manuel e Francisco, deverão ver também concluídas duas obras de relevo no estrangeiro: o Centro de Criação Contemporânea Olivier Debré, em Tours (França), e a Faculdade de Arquitectura de Louvain (Bélgica).

Também lá fora, Eduardo Souto de Moura deverá ver acabado o edifício de escritórios e hotel Ilot Allar, em Marselha (França). Mas o seu projecto mais mediático – mesmo que maioritariamente escondido debaixo da terra – será certamente o do edifício do aproveitamento hidroeléctrico da barragem Foz-Tua, um empreendimento envolvido em polémica por via da sua implantação na área do Douro Vinhateiro classificado Património da Humanidade.

Uma “máquina inserida na paisagem” foi a forma como o arquitecto do Estádio de Braga apresentou o seu projecto, que só deixa visível a casa das máquinas, assumindo-se como natureza artificial em diálogo com a natural.

A terminar também lá fora, e de novo com arquitectura religiosa, este levantamento que de modo algum se pretende exaustivo da agenda da arquitectura portuguesa, está a Igreja de Saint-Jacques-de-la-Lande, que Álvaro Siza projectou para um bairro de Rennes, na Bretanha francesa – no mesmo ano em que, afinal, não verá avançar o seu projecto de modernização das estruturas de acesso ao Palácio de Alhambra, em Granada, posto de parte pelo governo da Andaluzia na sequência de um parecer negativo do ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), o organismo consultivo da UNESCO para o património cultural. Mas Siza, que espera ver iniciada também este ano a construção de uma capela em Lagos, terá sempre a China – onde continua a ser convidado a projectar.

Um ano de exposições

Ao longo de 2017, as principais instituições que trabalham na divulgação da arquitectura em Portugal terão as seguintes exposições:

Instituto Marques da Silva, Porto

Alfredo Matos Ferreira – Terra d’Alva
Curadoria de Manuel Mendes
(até 13 de Fevereiro)

O encerramento desta exposição que assinala a doação ao Instituto do espólio de Alfredo Matos Ferreira (1928-2015), será lançado o seu livro Memória, a antecipar também uma mostra documental a apresentar posteriormente na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.

Instituto Marques da Silva, Porto

No Centenário da Avenida da Cidade
Curadoria de Domingos Tavares e Clara Vale
(abre a 1 de Fevereiro)

Mostra online a completar o ciclo de iniciativas (conferências + visitas guiadas) que vêm assinalando o centenário da demolição dos antigos paços do concelho portuense e deram lugar à actual Avenida dos Aliados.

MAAT – Museu e Arte, Arquitectura e Tecnologia, Lisboa

Dimensões Variáveis
Curadoria de Gregory Lang & Inês Grosso
(8 de Fevereiro a 22 de Maio)

Exposição que propõe um novo olhar sobre a diferença do conceito “dimensões variáveis” quando utilizado em arte ou em arquitectura, a inventar um novo diálogo entre ambas.

Museu de Serralves, Porto

Álvaro Siza Vieira: Visões do Alhambra
Curadoria de António Choupina
(3 de Março a 28 de Maio)

Depois de ter passado por cidades da Alemanha, Canadá e também por Granada, chega ao Porto a exposição do projecto que Álvaro Siza e o espanhol Juan Domingo Santos fizeram para um novo acesso ao monumento do Alhambra, entretanto posto de lado pelo governo andaluz.

MAAT – Museu e Arte, Arquitectura e Tecnologia, Lisboa

Utopia/ Distopia – parte II
Curadoria de Pedro Gadanho, João Laia & Susana Ventura
(22 de Março a 14 de Agosto)

Segunda parte da “exposição-manifesto” que inaugurou o novo edifício do MAAT, ainda associada ao 500.º aniversário da publicação de Utopia, de Thomas More.

CCB – Garagem Sul, Lisboa

Victor Palla e Bento d’Almeida – Arquitectura de outro tempo
Curadoria de Patrícia Bento d’Almeida, com João Palla Martins
(11 de Abril a 10 de Junho)

Primeira exposição pública sobre a obra do atelier Victor Palla (1922-2006) e Joaquim Bento d’Almeida (1918-1997), dois nomes do movimento moderno em Portugal.

CCB – Garagem Sul

Fernando Guerra/ FG+SG – Raio X de uma prática fotográfica
Curadoria de Luís Santiago Baptista
(11 de Julho a 15 de Outubro)

Mostra de trabalhos do escritório FG+SG, a quem se deve a cartografia fotográfica da arquitectura contemporânea, tanto portuguesa como internacional.

Casa da Arquitectura, Matosinhos

Poder Arquitectura
Curadoria de Jorge Carvalho, Pedro Bandeira e Ricardo Carvalho
(16 de Julho a 15 de Outubro)

Exposição de inauguração da Casa da Arquitectura, na antiga fábrica da Real Vinícola. Serão mostrados 45 projectos nacionais e internacionais que documentam as várias formas de poder desta disciplina.

Casa da Arquitectura, Matosinhos

Les universalistes
Curadoria de Nuno Grande
(4 de Novembro a 19 de Fevereiro)

Apresentação da mostra com que a Fundação Gulbenkian documentou, no ano passado, em Paris, na Cité de l’Architecture et du Patrimoine, o último meio século da arquitectura portuguesa.

 

Notícia corrigida: Embora o arquitecto Tombazis tenha assinado o contrato geral, por motivos de saúde não pôde participar na execução do projecto do Presbitério em Fátima tal como tinha sido escrito numa versão anterior deste texto. 

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