Outros cancros e outras moléculas

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O procedimento médico para activar a molécula António Pinto

Os primeiros testes da molécula redaporfina, criada na Universidade de Coimbra, escolheram um alvo que os investigadores consideraram relativamente fácil de eliminar. “Não quisemos começar por tumores muito difíceis de irradiar. O tumor da cabeça e do pescoço era mais simples”, refere Luís Arnaut, investigador da Universidade de Coimbra e um dos inventores da molécula. Enquanto os ensaios clínicos avançavam em hospitais do Porto, a equipa de investigadores continuou a explorar a descoberta em várias frentes.

“O medicamento passou uma das fases mais arriscadas do seu desenvolvimento, a entrada no homem, e a regressão do tumor verificada na sequência do tratamento abre o leque de opções terapêuticas dos doentes que já estavam em fase de cuidados paliativos”, refere um comunicado da empresa farmacêutica Luzitin (que tem os direitos de exploração da molécula para a área da saúde), acrescentando que “os resultados parecem ainda demonstrar que esta terapêutica pode vir a ser favorável no tratamento de outros tumores sólidos”.

Uma das áreas que está a ser investigada está relacionada com a combinação da molécula com outro tipo de tratamentos que já são usados no cancro, em particular com a imunoterapia. “A terapia fotodinâmica pode tornar-se mais eficaz ainda se combinada com alguns agentes que são usados ou testados em quimioterapia para um tumor primário e pode tornar-se também mais eficaz quando combinada com imunoterapias. Conseguimos ajudar a imunoterapia a tratar o tumor primário e, depois, a imunoterapia ajuda a terapia fotodinâmica a tratar as metástases”, explica Luís Arnaut. E os resultados desta rede de entreajuda que junta forças na luta contra o cancro têm sido, segundo a equipa, promissores em animais.

Mas, tal como os primeiros ensaios clínicos da redaporfina em doentes com cancro da cabeça e do pescoço, também os resultados das experiências em animais desta molécula combinada com outras terapias não foram ainda publicados numa revista científica.

Os investigadores estão também a usar esta terapia fotodinâmica com esta molécula em tumores “difíceis de irradiar”. São os tumores que obrigam a tecnologias mais sofisticadas para chegar a locais de difícil acesso, com recurso a fibras ópticas que são inseridas no corpo através de endoscopia. Por exemplo? “O colangiocarcinoma, localizado no canal que liga o fígado ao intestino, um tumor de difícil acesso e com um prognóstico muito reservado”, diz Luís Arnaut. Alguns testes já foram feitos em animais com este tumor e os resultados foram relatados à Agência Europeia do Medicamento, que concluiu que existia uma prova de conceito convincente e atribuiu à redaporfina o estatuto de medicamento órfão para o colangiocarcinoma, uma doença rara.

Há ainda outras possibilidades. Num plano mais alargado no tempo, a redaporfina também deverá ser testada no tratamento de outros cancros mais frequentes, como o do cólon e dos pulmões.

Por fim, há outras frentes de trabalho para a fototerapia com uma outra molécula (Luz51B é o seu nome de código). Nomeadamente para tratamento de doenças de pele que não estão relacionadas com o cancro, por exemplo a acne. “Há casos de acne severa para os quais ainda não existe uma solução terapêutica satisfatória”, argumenta o investigador, que adianta que com a terapia fotodinâmica é possível ter bons resultados. Neste caso, nas experiências é feita uma aplicação tópica, um creme por cima da pele, espera-se algum tempo para que o fotossensitizador penetre na região afectada, que é posteriormente irradiada. As experiências realizadas em animais deixam os investigadores optimistas.

 

A.C.F.

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