Notas de fim de ano (começando por quem mais mereceu)

O Governo aproveitou as festas para resolver meia dúzia de dossiers, a oposição aproveitou-as para… quase desaparecer. Que venha 2017, que este já passou do tempo.

O ano que está prestes a terminar foi de glória para o futebol português. Esta semana consagrou o líder da selecção nacional, Fernando Santos. Como o fim de ano é de boa-vontade, esta semana só se dá um cartão amarelo. 

Fernando Santos

Treinador da selecção nacional 
18 

Bem sei, é fácil dar notas no futebol, sobretudo quando ganhamos o campeonato da Europa de futebol. Mas, desculpem, Fernando Santos é mesmo um caso exemplar. Lembro-me como se tivesse sido ontem do clima que vivíamos quando o seleccionador nacional foi para uma conferência de imprensa dizer que ficaria em França até ao último dia e que seria recebido em braços. Os primeiros jogos foram dois empates, sofridos e nem por isso bem jogados. E por cá já ninguém acreditava. Santos sim. E foi com isso que deu a volta. Merecidamente, o português ganhou o Europeu. Esta semana ganhou apenas um prémio justo – o importante já tinha recebido: aquele abraço colectivo e uma página na nossa história. 

Castro Mendes

Ministro da Cultura
14

Não surpreende que seja um Governo de esquerda a fazer o que já se exigia há muito tempo: um plano de reabilitação de património cultural, espalhado pelo país – mas há muito degradado. O que é mais curioso é que seja um Governo de esquerda a concessionar esse mesmo património a operadores privados, num prazo que pode ir até aos 50 anos (meio século), de maneira a que esse património seja rentabilizado também. É claro que se tira o chapéu a Castro Mendes: a decisão é boa. E, mesmo com o grão na engrenagem de Peniche, a verdade é que foi para a frente. Agora serão precisos cuidados extras, para que desta vez tudo funcione (e sem falhas).

Vieira da Silva
Ministro do Trabalho
14

Tenho dúvidas, confesso, sobre a moeda de troca: entregar aos patrões um desconto muito alargado na TSU dos trabalhadores pode parecer pacífico numa época de crescimento económico – mas pode ser um grande problema se esse crescimento não vier. Dito isto, concedo num ponto: num ano de incertezas como o que se avizinha, ter patrões e a UGT de acordo nas medidas essenciais é muito tranquilizador, sobretudo no actual quadro político. Sobra agora um desafio: conter os partidos de esquerda, no desejo de reverter outras medidas do Código Laboral tomadas no tempo da troika. Só isso lhe garantirá o conforto dos agentes económicos para que o investimento apareça. 

Adolfo Mesquita Nunes

Vice-presidente do CDS
12

Não era fácil encontrar um ângulo político para criticar a mensagem de Natal de António Costa – que era feita à medida para passar entre os pingos da chuva. O CDS foi quem o conseguiu melhor: Adolfo Mesquita Nunes agarrou-se aos relatórios das últimas semanas sobre a boa evolução da Educação e pediu ao Governo que mantenha uma certa prudência e estabilidade nas políticas de educação. No discurso centrista, vi uma virtude e um defeito, respectivamente: é possível fazer oposição sem falar sempre de contas públicas (ou anunciar o diabo); não é fácil fazer oposição sem andar consistentemente a defender o trabalho no Governo anterior. 

Adalberto Campos Fernandes

Ministro da Saúde
11

É óptimo para todos que o Ministério da Saúde faça uma contratação de 349 médicos, de uma assentada, para resolver problemas que são urgentes de resolver – mesmo que na recta final para o fim do ano, quando as urgências já se enchem e os hospitais obrigam a esperas infindáveis aos utentes. Mas convinha, também, percebermos os antecedentes desta emergência. Parece claro, a esta altura, que o SNS não estava preparado para reverter as 40 horas de trabalho por semana, como tinha sido decretado há uns anos. O que não é claro é a dimensão do problema que causou. O Governo há muito promete entregar o estudo que fez, mas ainda não o conhecemos (nem os deputados, aliás). E a medida já foi tomada há meio ano. Um bocadinho demais, não?

João Leão

Secretário de Estado do Orçamento
9

Aprendi com os anos que o secretário de Estado do Orçamento é das pessoas mais poderosas – e com a missão mais ingrata de um Governo. Em tempos de escassez financeira, é a ele que lhe cabe dizer que não (muito mais vezes do que diz que sim). João Leão tem esse papel neste executivo socialista. E esta semana resolveu dizer que sim. Azar dos Távoras: disse que sim a quatro autarcas, todos eles do PS, aceitando transferir-lhes dinheiro para obras. Admito, sem juízos morais precipitados, que João Leão não soubesse, ou mesmo que não tenha a menor noção de se os pedidos que lhe chegam são da cor A ou B. Mas a menos de um ano de eleições autárquicas, no mínimo, teria de perguntar. O problema é que a única maneira de corrigir, agora, é dar um tanto a outras câmaras – sejam elas PSD, CDU ou CDS. Mas a probabilidade de isso abrir uma caixa de Pandora é enorme.

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