PCP quer Parlamento a exigir ao Governo mais médicos e camas nas urgências

Projecto de resolução dos comunistas pede também que se deixe de recorrer a médicos em formação e se invista em equipamento.

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NFACTOS / FERNANDO VELUDO

Mais médicos, enfermeiros e camas nos serviços de urgência dos hospitais e dos centros de saúde, mais equipamentos, acabar com o recurso a médicos em internato e alargar o horário das unidades de saúde. Esta é a receita do PCP para fazer face aos problemas dos serviços de urgência tanto dos hospitais como das restantes unidades que já se sentem hoje e que irão aumentar com o previsível agravamento dos casos de gripe nas próximas semanas.

Numa altura em que a taxa de incidência da gripe tem vindo a crescer sucessivamente desde o início de Novembro, como regista semanalmente o Instituto Nacional de Saúde dr. Ricardo Jorge, e se adivinham ainda mais problemas nos serviços de urgência médica, o PCP entregou na Assembleia da República, na terça-feira, um projecto de resolução com sete recomendações ao Governo sobre os serviços de urgência.

Centrado nos problemas das urgências, o diploma recomenda a António Costa que “garanta a contratação dos profissionais de saúde que permitam o funcionamento pleno dos serviços de urgência e a prestação de cuidados de qualidade e de forma atempada aos utentes”. Isso significa mais médicos, mas também mais enfermeiros e, por exemplo, técnicos de diagnóstico. 

"Hoje ainda estamos a viver as consequências das opções políticas de desinvestimento na saúde pública do anterior Governo, que fechou serviços de proximidade, cortou camas nos hospitais e levou à saída de milhares de profissionais do Serviço Nacional de Saúde, entre médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico”, argumenta Carla Cruz.

anúncio da abertura de um concurso para a contratação urgente de 349 médicos esta quarta-feira não descansa os comunistas. "É positivo, claro, e muito necessário, mas no SNS não faltam só médicos. Faltam também milhares de enfermeiros, técnicos de diagnóstico e de terapêutica, e assistentes operacionais", defende a deputada. "Estamos muito aquém dos rácios de dotaçao segura da OMS - Organização Mundial de Saúde, e todos estes profissionais são essenciais para o funcionamento das equipas, que são multidisciplinares."

As outras duas medidas mais emblemáticas deste pacote são o alargamento do horário dos cuidados de saúde primários, de forma a descongestionar os hospitais, e um aumento do número de camas nos serviços de urgência “que permita o internamento em condições dignas”, descreveu ao PÚBLICO a deputada Carla Cruz. “É preciso evitar o que aconteceu no Inverno passado, no pico da gripe, em que havia doentes em macas ou em cadeirões nos corredores”, defendeu.

A deputada realça que o Ministério da Saúde respondeu ao PCP que nos últimos anos, durante o Governo PSD/CDS, se encerraram 900 camas e que um estudo do INE indica que entre 2002 e 2012 houve uma diminuição contínua de camas de internamento nos hospitais públicos e um reforço das dos hospitais privados – foram cortadas 3000 nos primeiros e criadas 1400 nos segundos, tendo havido uma “redução de 1618 camas no total”. Dados oficiais ainda do Governo PSD/CDS mostravam que entre 2010 e o final de 2014 se tinham reformado 3000 médicos do SNS, metade deles afectos aos centros de saúde.

Questionada sobre se não seria já tempo de o actual Governo mudar este cenário, a deputada diz que as poucas contratações de médicos e enfermeiros que foram feitas no último ano, assim como o anúncio desta semana, ainda são “claramente insuficientes”. “É preciso um maior investimento para reequipar e renovar os equipamentos, aumentar a disponibilidade de camas, valorizar os profissionais”, enumera.

Carla Cruz não consegue contabilizar quantos profissionais serão precisos neste momento nos serviços de urgência, mas a Ordem dos Médicos avisou o PCP de que há hospitais que nem sequer conseguiram “ter médicos suficientes para completar as escalas de Dezembro”. O que demostra a necessidade de maior articulação entre os centros de saúde e os hospitais para evitar redundâncias no atendimento e também entre os centros de saúde e as instituições que acolhem idosos (lares e centros de dia) para “adequar a prestação de cuidados a estes utentes”, como também recomenda o diploma.

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