Governo britânico critica comentários dos EUA sobre Israel

Diplomata comenta ao Guardian que relação entre Theresa May e Donald Trump será semelhante à de Thatcher e Reagan.

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May não concordou com críticas à composição do Governo israelita AFP/JUSTIN TALLIS

O executivo britânico não gostou dos comentários do secretário de Estado norte-americano sobre Israel e considerou que não é “apropriado” criticar a composição de um Governo democraticamente eleito de um país aliado.

Na quarta-feira, e a poucos dias do fim da Administração Obama, John Kerry fez um duro discurso, criticando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por liderar “a coligação mais à direita da história de Israel” e acusando o país de desenvolver um “projecto exaustivo para se apropriar de zonas da Cisjordânia” que fazem parte do território palestiniano, minando o processo de paz.

Através de um porta-voz, a primeira-ministra britânica, Theresa May, salientou que apesar de considerar ilegal a construção de colonatos israelitas nos territórios palestinianos, este está longe de ser o único problema do conflito. “Não acreditamos que se deva negociar a paz focando-nos apenas numa questão”, lê-se num comunicado, citado pela Reuters. “E não achamos que seja apropriado atacar a composição de um Governo democraticamente eleito de um aliado”. O mesmo responsável adiantou: “O Governo acredita que as negociações apenas serão bem sucedidas se forem conduzidas entre ambas as partes, apoiadas pela comunidade internacional”.

A reacção de Londres foi interpretada pelo jornal Guardian como uma forma de Theresa May “lançar pontes para a próxima Administração Trump” – o Presidente eleito foi rápido a sossegar Telavive, escrevendo no Twitter:  “Aguenta-te Israel, 20 de Janeiro está perto!”

O Departamento de Estado norte-americano também já reagiu ao comentário de May. Num comunicado, um porta-voz manifestou “surpresa”, uma vez que “as declarações de Kerry – que cobrem o espectro das ameaças à solução dos dois Estados, incluindo o terrorismo, a violência, as infracções e os colonatos – estão alinhadas com a política que o Reino Unido segue desde há muito e com o seu voto nas Nações Unidas, na semana passada”. Ao mesmo tempo, o comunicado salienta “o forte apoio” às declarações de Kerry “por parte de vários países do mundo, incluindo a Alemanha, França, Canadá, Jordânia, Egipto, Turquia, Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos, entre outros”.

Londres desempenhou um papel importante na aprovação de uma resolução da ONU condenando Israel por violar o direito internacional com a sua política de expansão dos colonatos, avançou então o Guardian. O papel da mediação britânica pretendia garantir que a redacção da resolução iria ao encontro das principais preocupações americanas – os EUA, num gesto pouco comum, abstiveram-se, enfurecendo o Governo israelita.

Mas segundo o porta-voz, May ficou preocupada com a linguagem usada por Kerry, adianta o jornal. “Sabe-se que May é a favor de uma relação próxima com a Casa Branca de Trump”, escreve o Guardian. “O embaixador britânico Sir Kim Darroch disse até que espera uma relação semelhante à que Margaret Thatcher teve com o homólogo americano Ronald Reagan”.

 

 

 

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