Retalho com o maior peso na dívida desde 2010

Financiamento do Estado tem vindo a conseguir reduzir a dependência face aos mercados internacionais

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Cristina Casalinho lidera o IGCP, a entidade que gere a dívida portuguesa Nuno Ferreira Santos

O lançamento este ano das Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) colocou o peso dos instrumentos colocados no retalho no total da dívida pública portuguesa no seu nível mais alto dos últimos seis anos, revelando a preocupação crescente do Tesouro em reduzir a exposição da dívida aos mercados internacionais.

De acordo com os dados publicados pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), os três produtos de poupança relacionados com dívida pública portuguesa, que podem ser adquiridos a retalho por particulares – Certificados de Aforro, Certificados do Tesouro e OTRV - nos balcões dos CTT e dos bancos), ascendiam a 27.365 milhões de euros no final do passado mês de Novembro. 

Este valor é não só o maior em termos absolutos desde pelo menos 2001 – a data de início da série de dados disponibilizada pelo IGCP – como representa em percentagem da dívida pública total o resultado mais elevado desde Junho de 2010, chegando neste momento aos 11,5%.

E se se considerar apenas para a análise a dívida pública de médio e longo prazo colocada junto de investidores (não considerando especialmente a dívida à troika), ainda se torna mais evidente a importância que o retalho está neste momento a conquistar na estratégia de gestão da dívida portuguesa, ascendendo o seu peso já a 20,4%, o valor mais elevado dos últimos 11 anos.

O peso do retalho no total da dívida pública portuguesa tem vindo a subir de forma progressiva desde que em Agosto de 2013 atingiu um valor mínimo de 5,4%. Nessa altura, o Estado português não tinha acesso aos mercados internacionais, mas contraía novas dívidas a grande velocidade junto dos seus parceiros da zona euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A partir daí, contudo, as dinâmicas mudaram. Não só o ritmo de endividamento reduziu-se, como os certificados de aforro e de tesouro se foram tornando cada vez mais atractivos como instrumento de poupança.

O seu peso no total foi aumentando de forma progressiva entre 2013 e 2015, ganhando um novo impulso já este ano, como o lançamento das OTRV, que conseguiram ser colocadas num montante total de 3450 milhões de euros.

Para a estratégia de financiamento do Estado português é fundamental, no actual contexto de incerteza que se vive nos mercados, que os pequenos investidores nacionais desempenhem um papel de relevo na aquisição de títulos de dívida pública. Em princípio estes investidores são mais estáveis e o país fica um pouco menos vulnerável às mudanças bruscas de sentimento dos grandes investidores internacionais em relação ao país.

Ainda assim, no seu plano para o próximo ano, o IGCP é prudente em relação à aposta no retalho. Enquanto em 2016, os produtos de retalho deverão representar cerca de 7000 milhões de euros de um total de 23100 milhões de financiamento, para 2017 a previsão não vai para já (em termos líquidos) para além dos 1500 milhões de euros.

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